segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Lou Reed



A notícia me pegou de surpresa. Não fazia ideia de que ele estava doente. Lou Reed parecia sempre muito forte, criativo. Um cara que nos surpreendia, e mesmo quando ouvia os discos da época de sua crise musical, que durou mais ou menos uns 10 anos, entre o fim da década de 1970 - quando ele parecia ter perdido a mão -  e o disco "New York", de 1989 - quando ele recuperou sua verve musical e poética - eu tinha a impressão de que o seu jeito de cantar e tocar guitarra eram únicos. Sua voz grave e seu jeito de cantar, quase declamando as letras nas canções, sempre foram muito impactantes. Meu domingo ficou realmente triste, chorei como se tivesse morrido um tio ou um irmão mais velho.
Lou Reed entrou em minha vida num momento em que eu superava minha fase "beatlemaníaco xiita". E quando ouvi os discos do Velvet Underground pela primeira vez, aos 17 ou 18 anos, aquilo mudou de tal maneira meu modo de pensar que eu nunca mais fui o mesmo. Inclusive, por conta do novo "vício" musical, eu acabei desapegando dos Beatles. Pura bobagem, da qual eu me arrependeria logo mais - depois de me desfazer de uns LP´s dos fabfour, por conta do novo amor, encontrei uma vez um artigo escrito pelo próprio Reed em que ele assumia também ser beatlemaníaco, e dizia que sua música existia por causa do som dos ingleses. Saber disso foi mais impactante ainda. Tive que recuperar os LP's dos Beatles extraviados, e outra obsessão passou a fazer parte de minha alma de colecionador - ter os discos dos Beatles e dos Velvets por inteiro.
Ano passado, concretizei esse sonho de adolescente - comprei de uma vez só os 4 discos clássicos do Velvet, em edições de luxo, e me pus a ouvir obsessivamente, como fazia nos tempos de vadiagem juvenil, em que só o rock´n roll dava sentido pra minha vida. 
Tive a sorte de, em 1996, num daqueles episódios de que a gente se orgulha para o resto da vida, assistir ao show de Lou Reed, em São Paulo. Uma aventura sem parâmetros - eu vinha de Belo Horizonte, onde por acaso havia encontrado uma edição espanhola do disco Rock´n Roll Heart (1976), que até hoje é um dos meus preferidos, para encontrar meus quatro amigos Zé, Sérgio, Cassiana e Angelo, que vieram eles mesmos de carona, desde Ponta Grossa, para assistir ao show. 
Ninguém tinha grana, e só conseguimos os ingressos porque naquele tempo, ver shows internacionais no Brasil não custava o preço de um automóvel popular. Compramos, obviamente, os ingressos mais baratos - o que, para nossa surpresa, nos deu direito a ficar de frente ao palco, no antigo Palace. Éramos 5 jovens amigos, meio caipiras, mas unidos pelo que a música de Lou Reed e do Velvet Underground significava para nós. Chovia em cântaros, nós estávamos hospedados num apartamento de um amigo meu, que era dirigente do movimento estudantil e emprestou a casa enquanto estava fora. Foi um show maravilhoso, do qual nunca esqueci, e que até hoje me dá saudades - em especial, porque lembro do guitarrista todo de preto, no palco, tocando por quase três horas, diante de uma plateia enlouquecida. Foi o último show daquela turnê, e Lou e banda voltaram para 3 bis.
Semana passada, ouvi "Magic and Loss", seu disco de 1992, que eu não ouvia há tempos, e fiquei feliz porque para mim o disco soa com o mesmo frescor da primeira vez que eu o pus pra tocar na vitrola. É estranho pensar que agora ele não está mais nesse mundo, e que ouvir seus discos solo ou com o Velvet Underground vai ter outro sentido. 
Sinto-me muito triste. Mesmo sabendo que ele tinha 71 anos, estava doente, havia feito um transplante de fígado, e que, afinal, as pessoas morrem. Há um vazio em meu coração - e acredito, no coração de todos os que amaram sua música, e tiveram suas vidas transformadas por ela. 
Descanse em paz, Lou Reed. Para mim, você sempre será um mestre.