sábado, 30 de abril de 2011

Em defesa dos Gatos do Parque Municipal em BH

Acabo de participar da manifestação em apoio à permanência dos gatos no Parque Municipal Américo Renê Gianetti, em Belo Horizonte.
Foi um encontro promovido por voluntários e entidades de defesa aos animais, e ocorreu devido à absurda proposta da Prefeitura, que deseja retirar os gatos que lá vivem há vários anos e encaminhá-los para um gatil.
Não bastasse o absurdo que só esse fato em si representa, os argumentos são ainda mais estapafúrdios.
Em dezembro de 2010, uma pessoa morreu enquanto caminhava pelo parque, atingida por uma árvore que caiu. A árvore, infectada por cupins, desabou e causou uma tragédia que levou ao fechamento do Parque por quase quatro meses. Neste período, técnicos da Prefeitura realizaram a remoção de quase 200 árvores que estariam infectadas por cupins.
Quando o parque reabriu, no começo do mês de abril, saiu a notícia de que os técnicos chegaram à conclusão que há uma infestação de cupins no parque, e que isso se deveria ao fato de que os cupins não encontram predadores naturais - na cabeça brilhante dos técnicos do município, isso se deveria porque os gatos estariam devorando os pássaros que habitam o municipal. A ideia foi comprada pela prefeitura, que, de maneira ainda mais "brilhante", decidiu, à revelia de qualquer debate, que os gatos eram culpados pela queda das árvores (!) e que por isso, deveriam ser retirados de lá.
Acontece que esse argumento é falso, por pelo menos dois motivos: primeiro, os gatos que habitam o Parque estão lá há mais de dez anos, e entidades protetoras de animais, como a Associação Bichos Gerais, SOS Bichos, Gato Nergro, além de voluntários que há anos se preocupam em castrar, vacinar, cuidar e alimentar os bichanos, são de fato os responsáveis pela qualidade de vida dos animais. Os gatos são alimentados com ração de boa qualidade, e se por acaso caçam um ou outro pássaro, é por instinto, não por fome.
Segundo, os cupins que infestam as árvores são de espécie terrestre, e seu predador natural não é nenhum pássaro, senão formigas.
A tese de culpar os bichanos pela queda de árvores é absurda e risível. Na verdade, isso é uma desculpa para que o poder público continue a se omitir diante do grave problema dos animais abandonados nas ruas da cidade. Promovem o genocídio, que levaria certamente os gatos do municipal, animais territorialistas, ambientados no local, e sobretudo, dóceis, ao sofrimento e à morte, ao invés de educar a população a não maltratar, não abandonar e não comercializar animais.
Minha opinião é que as ratazanas que habitam a Prefeitura Municipal, cuja sede é em frente ao parque, temem ser devoradas pelos felinos. A começar pela ratazana chamada Márcio Lacerda, demagogo que atende como alcaide-mor dessa capital de todos os mineiros.
A manifestação foi muito importante para deixar claro que a sociedade civil e as entidades protetoras dos animais não ficaram caladas, e faremos o possível para evitar essa ação demagógica, fascista e genocida por parte do poder público.
Seguem fotos desse dia em que a fraternidade e a solidariedade aos animais falou mais alto.





 Eu e minha amiga Carla, voluntária da SOS Bichos




sexta-feira, 15 de abril de 2011

Outono amarelo

Poema de Milton Fernandes, Belo Horizonte, outono de 2011.


Outono amarelo
sobre a copa
o verde mais
amarelo que já
                        verde

Abro a porta, raio
e flutuo
sobre o concreto,
mas, flutuo

Insisto na sacada
, pois, deu-me
a chance de conviver
co'as árvores.

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Por meu amigo Milton Fernandes, quase no mesmo instante em que eu tirava esta foto,  no Bonfim, em outro ponto da Cidade.

Vimos o mesmo amarelo.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Cemitério do Bonfim

Sempre tive uma certa atração por cemitérios. Por várias razões, os chamados "campos santos" me chamam atenção desde a mais tenra idade. A expressão artística existente nos mausoléus e monumentos, e mesmo a maneira como os túmulos mais simples expressam a morte e o mistério que a envolve, são objeto de interessante reflexão sobre os caminhos e ações da vida humana. 
Por vezes, apesar do estado definitivo que a morte representa, é possível perceber que a representação da morte nos cemitérios é uma forma de se manter viva a aura da pessoa querida falecida. Os túmulos e mausoléus, de hoje e de outrora, são uma tentativa de permanência, mesmo diante da inexorável evidência de que a morte é para sempre, independente da crença de cada um num post-mortem glorioso, seja cristão, islâmico, kardecista, umbandista, budista, hinduísta ou outra religião. 
Assim, as Pirâmides com sua suntuosidade, os mausoléus de heróis de guerra, ou de escritores, cantores, líderes religiosos e políticos são construídos, arquitetonicamente, como uma forma de afirmar que a presença do morto continua, mesmo que em ideal.
O fato é que a morte nos iguala. Seja envolto num ataúde de mogno com as alças douradas e o fundo de veludo vermelho, seja num humilde enterro em uma periferia, todos ficamos iguais diante do rigor mortis.
Neste post, está presente um olhar sobre o Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte. Cemitério mais antigo da cidade, e também o maior, possui milhares de túmulos que em determinados momentos, diante da localização geográfica, se confundem com a cidade ao fundo e dão um aspecto curioso de continuidade. Numa tarde silenciosa e com uma luz apropriada (ainda que meu equipamento seja chinfrim), cheguei a pensar em alguns instantes que a cidade inteira seria como um grande cemitério, e que o Bonfim apenas seria sua extensão - ou vice-versa: a cidade contigua ao Bonfim, com a Serra do Curral e grandes nuvens ao fundo. 
Um aspecto peculiar foi a presença de uma senhora a limpar os túmulos e dar de comer aos muitos gatos que habitam o cemitério. Fui conversar com ela e conheci uma figura de grande humanismo: dona Elza Ribeiro, que toma conta dos felinos e cuida especialmente do túmulo de Irmã Benigna. Considerada a santa milagreira do Bonfim (todo cemitério tem ao menos um túmulo de alguém a quem se dirigem preces e a quem se atribui a realização de milagres), o túmulo de Irmã Benigna é repleto de placas em agradecimento a graças alcançadas. Dona Elza é uma espécie de guardiã desse túmulo e me disse que diariamente vai ao Bonfim para limpá-lo, depois de dar de comer aos gatos, a quem dá nomes: Roberto, Diego, Ritinha, Oncinha, entre outros.
A vida se apresenta sutil e intrigante no lugar que representa seu fim.





A tênue linha que separa os vivos dos mortos




Oncinha
 
Ritinha

 Roberto


 Dona Elza, dedicação aos mortos e aos gatos

 No túmulo de Irmã Benigna, a devoção dos que tiveram graças alcançadas
 Uma cena de carinho

 Morto há quase cem anos, mas com a mesma fleuma de quando estava vivo.
 Singing Om

 And your bird can sing


Um anjo que chora