domingo, 27 de dezembro de 2009

40 posts, a terra do Zacarias & meu avô

Esse é o quadragésimo post dos Caldos de Cana.

Quarenta escritos! E não é que eu consegui? Talvez nem seja muito...

Hoje é 31 de dezembro de 2009, faz 30 anos que meu avô paterno, o velho Theodoro Silva, morreu. Então, de certa forma, esse post será escrito como uma homenagem a um ser humano que congregou em torno de si toda uma família, que nunca mais foi a mesma depois de sua morte.
Eu tenho que admitir que estou contente por chegar ao número 40. Aquela velha máxima do Mário de Andrade sobre o fato de todo escritor acreditar na valia do que escreve, e que, por consequência, se vier a mostrar ou esconder, será por vaidade.

Em comemoração aos 40 textos dos Caldos de Cana, um especial sobre uma viagem excelente que fiz em companhia de meus amigos Milton, Tassiani e seu filho Theo, até Sete Lagoas.
Eu me convidei a ir com eles, e fui dirigindo o fusca 78 de Tass até a cidade que fica aproximadamente a 70 km de Belo Horizonte.
Milton Fernandes & Tassiani Cançado, meus protetores


Lá chegando, passamos o dia 25 de dezembro junto à família de Milton, num sítio rodeado de pequizeiros, flamboyants, acerolas, jenipapos, buritis, com direito a cães, galinhas, lagoa, tias, avós e bisavós.

Pequis


Uma delícia. A família tradicional mineira, reunida e festeira como sempre
Acerolas


Violão, cerveja, piadas e um clima de confraternização maravilhoso.

Violões que choram

E agora, a lembrança de meu velho avô e de tudo o que eu sou, e também as lembranças maternais, cujos avós me deixaram também muito cedo, servem talvez como uma forma de dizer que a vida é um mistério, um mistério feito de traços que nos unem a todos.

Em Sete Lagoas, no ano 2009, ou em Ponta Grossa, no dia 31 de dezembro de 1979.

Neste momento, um vinho Mioranza na cabeça, e amanhã eu e a Giu rumo ao norte de Minas e ao litoral sul da Bahia

Amém.

Milton e tia Geralda, embaixo de um flamboyant

Buritis

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Um pouco de boa música

O último post foi uma surpresa para mim.
Até o momento, com 13 comentários (incluindo as réplicas do autor), foi o mais comentado de todos os posts do Caldo de Cana. Uma surpresa, claro, que me faz pensar: primeiro, a indignação com o estado das coisas não é só minha, e isso me deixa aliviado porque eu sou paranóico o suficiente para achar que posso virar um chato. Segundo, preciso voltar a viajar! Sim, porque o objetivo deste blog é contar aventuras e desventuras de um viajante em busca de um olhar diferente das estradas da vida.
Então, meus três ou sete leitores, preparem-se porque os Caldos de Cana vão pegar um pouco da poeira do asfalto, daqui uns dias, rumo ao norte. Na verdade, yes, i'm going back to Bahia, via norte de Minas.
Esperai, irmãos e irmãs. E acompanhai!
Voltar a Bahia é sempre emocionante e eu espero encontrar tantas curiosidades quanto eu encontrei no ano passado. E também, fundamentalmente, pretensiosamente, inspirar quem quer que me leia a fazer o mesmo!
Jack Kerouac: "Cair na estrada é a única coisa digna a ser feita por nossa geração".
Enquanto isso, já que as últimas palavras foram, digamos, indignadas e um tanto virulentas, e eu quero limpar este blog de toda e qualquer má energia, aqui vai um vídeo belíssimo com o cantor Thomas Quasthoff, cantando um lied de Schubert, acompanhado por Daniel Baremboim ao piano.
Assistam e tirem suas próprias conclusões a respeito da boa música, da música com alma, a música com Vida.
Agradeço ao meu amigo, Maestro Osmário Estevam Junior, por ter me indicado esse vídeo, que já devo ter assistido umas dez vezes nas últimas 4 horas.
Confesso que não consegui assistir sem deixar de me emocionar em cada uma delas.
Aproveitem e emocionem-se, também, afinal, eu acho, a música, e talvez só ela, pode nos curar de tudo.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

MÍJEM NA MÍXEM!!

Vez em quando, dou meus pitacos na sessão de comentários do leitor do Diário dos Campos, de Ponta Grossa. O jornal é supostamente centenário (foi fundado em 1908 como "O Progresso", teve um hiato de 10 anos sem ser publicado, nos anos 1990, mas voltou e se diz um jornal independente).

Pois bem, aconteceu uma coisa que nunca havia ocorrido com um texto meu até hoje: fui censurado! Eu já escrevi várias coisas destoando do senso comum, mas confesso que não esperava por essa (Não que eu esteja chateado, de certa forma é um orgulho ser censurado por um jornal da minha cidade natal).
O fato é que escrevi um comentário em forma de manifesto, intitulado "Mijem na Míxem", sobre a matéria de 8/12/2009 que versava sobre os "81,9 mil pagantes" que compuseram o coro dos contentes na festa sertanejo-alemã de PG, a chamada "München Fest", em sua vigésima edição repleta de animadas atrações e shows com artistas tão geniais quanto João Neto e Frederico, Calcinha Preta, Jorge e Mateus, Maria Cecília & Rodolfo, Hugo Pena e Gabriel, Inimigos da HP, sem esquecer os Titãs, ou o que sobrou deles.
Tais shows, em minha opinião, traduzem muito bem o "espírito alemão" da festa. Só pra constar: pra quem não conhece, Ponta Grossa tem mais descendentes de poloneses e italianos do que de alemães, mas tudo bem, o prefeito é alemão, chucro e flamenguista, é ele quem manda.

Eis que meu texto ficou "aguardando avaliação para ser exibido publicamente" nas páginas virtuais do diário princesino. Obviamente, pelas severas críticas em tom de ironia, não esperava vê-lo publicado nas páginas de papel do jornal, mas daí para simplesmente não ser "exibido publicamente" no sítio, me fez pensar a respeito dos motivos pudicos ou excusos que levariam a editoria do tradicional diário (ou quase: o periódico princesino jamais circula às segundas-feiras, mas desconheço coletivo para nomear uma publicação que circula todos os dias menos às segundas-feiras, por isso, sigo a forma como o dc se vê, ainda que, justiça seja feita, não se tratar de uma exclusividade:, o jornal da mãnha tampouco circula às segundas-feiras, do mesmo modo que o falecido diário da mãnha funcionava sob o mesmo regime de celibato) a considerar o texto inadequado para a "exibição pública", conforme está afirmado no çaite.

De qualquer modo, temos a internet e eu tenho esse blog com meus dois ou três leitores, e isso pode, ao contrário do arbítrio do Diário dos Campos, "exibir publicamente" meu texto censurado. Você pode lê-lo, se for de seu interesse. E também pode discordar dele, se quiser. Ficarei feliz de qualquer modo.

Quem sabe seja capaz provocar um debate sobre a pertinência da crítica ou a necessidade de endosso das práticas vis de nossa política "curturar", e também reflexões sobre qual deve ser o ritual necessário e critérios para um texto ser ou não publicado no jornalismo ponta-grosseiro.
abraços

MIJEM NA MÍXEM!
Esse evento dantesco é o que poderíamos chamar de “um flash de nós mesmos”. Por um lado, ajusta-se perfeitamente aos anseios de nossa bela “classe mérdea” (como bem definiu o grande João Antônio). Como um espelho de sua mediocridade, desejo de aparecer, incongruência mental, baixo nível cultural, arrogância, sorrisos forçados para as colunas çociais, a fim de mostrar-pra-mamãe-como-estou-feliz com meus dentes novos, meu botox novo, meu carro novo, meu casamento novo, meu anel de brilhantes novo, minha maquiagem nova, meu dia de rainha da festa, entre outras qualidades não menos deploráveis, a mixa fest cumpre seu papel. Por outro, funciona também como um exemplo das injustificadas justificativas para abafar o que vai mal em nossa administração pública, a partir da perversão e inversão dos valores humanos em nome da subversão, autoritarismo e visão estreita do mundo, da cultura e da política, da destruição do patrimônio histórico (de qual a festa mixa é um dos baluartes, pois sua primeira edição serviu de funeral para o pátio da rede ferroviária e a bizarra transformação que se impôs depois aos mais caros símbolos de nossa cidade), as respostas evasivas aos problemas graves que atingem a população menos favorecida (falta de calçamento em vias públicas, mentiras sobre asfalto em ruas não asfaltadas(I), falta de saneamento básico, falta de segurança, falta de acesso à cultura de verdade, falta de saúde, falta de transporte público de qualidade, falta de asseio nas ruas e praças, falta de opções que fujam da avenida mijem, falta de democracia, falta de amor) ).
o espírito de porco que toma conta da city em dias de peste irracional do chopescuro (kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkrindopordentro) surge como um perfeito breviário daquilo que cada vez mais se radicaliza na pobre Princesinha dos Campos (talvez melhor fosse chamá-la "Tristeza dos Campos"): a destruição de tudo o que fez de nossa cidade um exemplo positivo no passado, a aniquilação de qualquer voz crítica que se oponha à catarse coletiva(II), sob as bênçãos de podres políticos, publicitários-otários, radialistas-normalistas, assessores de comunicação viciados no espetáculo, empresários egoístas, policiais marginais, médicos esteticistas, professores que nada ensinam, universi-otários, artistas-autistas, jornalistas com ou sem diploma, verborrágicos insanos, e qualquer outra criatura que tenha língua e dedo (rindo por dentro de novokkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk)... e claro, com a anuência passiva de um povão com vocação para cordeiro, que não conhece, não quer e nem pode conhecer a própria história, já que ela foi deturpada, vendida e estuprada por um bando de visigodos sedentos e apegados ao poder e ao mundo brilhante e rococó, tão caro ao mau gosto das elites brilhantes, que instituiu a repartição dos cargos públicos e dos meios de comunicação, quase sempre a serviço de seus interesses individuais(III) ). Enquanto a mixa fest acontece, a natureza dos campos gerais segue sendo destruída em nome do agronegócio e da farofagem, a memória segue sendo queimada em praça pública, a cidade segue mal-administrada, nossa sociedade segue uma das mais bisonhas do estado. O mais incrível é o silencioso pacto de mediocridade existente entre nossa elite política e cultural, pacto que mantém as coisas exatamente como elas são e que, como suínos, nos obriga a refestelar-nos na lama da alienação através da promoção da pobreza de espírito de uma çocáiti burra, alienada, triste, miserável e cruel, acostumada a ser servida enquanto chafurda nos próprios dejetos. Uma vez mais cito o grande João Antônio (não conhece? Leia “Malagueta, Perus e Bacanaço”): PRA QUE TROUXA QUER DINHEIRO? cadê a princesinha?
NOTAS: (I) Notícia de hoje (9/12/2009) no Diário dos Campos: "Rua de terra consta como 'pavimentada'".
(II) O próprio texto foi uma das vozes aniquiladas por se recusar a compactuar com a catarse coletiva.
(III) No original enviado para o Diário dos Campos e não publicado no sítio, constava "(com honrosas exceções, entre as quais o DC talvez faça parte)".

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Algumas fotos da Estrela Japonesa



Cachaça, cerveja, refrigerante, sucos, leite em pó, bebidas de soja, fios de linha, fumo, abridores de garrafa, gatinhos da sorte chineses, achocolatado, suspiro, doces, balas, biscoitos, conhaque, azeite, sandálias de borracha, vassouras, ancinhos, margarina, maionese, copos plásticos, limões, sorvetes, pimentas, caixas de fósforos, isqueiros, cigarros industrializados, cigarros de palha, charutos, cachimbos, vinagre, querosene, pregos, feijão, erva-mate, arroz, macarrão, massa de tomate, cuia, bomba, sabonete, sabão em pó, detergente, produtos de limpeza, pão de mel, rollmops, vina em conserva (quem não souber o que é uma vina, vá a Curitiba e peça seu cachorro-quente com duas vinas), ovos de codorna, pepino azedo, latas de ervilha, milho verde, linguiça defumada, café, tempero, coadores e filtros de café, água mineral, gasosa de gengibirra, mel, melado, geléia, chá, chaveiros, butijão de gás, suco de abacaxi, groselha, alho, agulha, luvas, enfeites, fitas adesivas, etiquetas, carrinhos de brinquedo, bonequinhas, porta-retrato, pilhas, chupetas, mamadeiras, lâminas de barbear, filmes fotográficos, canetas, lápis, lápis de cor, cadernos, escova de dentes, creme dental, energético, suco em pacote, maçã, café solúvel granulado, sopas em pacote, velas, sinetas, acetona, algodão, água oxigenada, cera automotiva, cera para casa, cera para sapatos, sapatos, tênis, seda para cigarros, cola escolar, cotonetes, benzina, pato donald, cortiça, pente, escova de cabelo, trena, lanterna, creme de barbear, cortadores de unha, tesoura, vinho, vermute, conhaque, desodorante, chocolate, paçoca, panos de limpeza, água sanitária, soda cáustica, amaciante, fogareiro a gás, copos de vidro, pratos, veneno contra insetos, temperos, suco de uva, molho inglês, molho shoyu, caracu, cadeiras amarelas, flores de plástico, guarda-chuva, pinça, tomadas, papel alumínio, uísque nacional e escocês, churrasqueira, gim, esponja, palha de aço, chuveiro, lâmpadas, farinha de milho e de mandioca, catchup, licores, plantas.


Sim, tudo isso.


E mais algumas coisas que, provavelmente, eu não notei.

Dona Teresa, a Estrela Japonesa, atrás do balcão de um dos mais singulares estabelecimentos curitibanos

Na esquina da Comendador Macedo com Mariano Torres, Centro de Curitiba, há 44 anos
O bar tem grande diversidade de produtos





Gostou?

Então, passa lá uma tarde dessas pra tomar cerveja e comer um rollmops.

domingo, 1 de novembro de 2009

Um botequim em Curitiba


Aproveitei o feriado dos finados e vim dar um hello para a família, no Paraná.
Cheguei em Curitiba e fui com meu amigo e parceiro musical Marcelo Teixeira ao bar "Estrela Japonesa", que fica na esquina das ruas Comendador Macedo e Mariano Torres.
O bar é tocado por dona Tereza, a japonesa que vem iluminando a esquina há 44 anos.
Um perfeito botequim de bairro em pleno centro da cidade, além de cerveja, cachaça e rollmops, você pode encontrar todo tipo de quinquilaria: sandálias havianas, erva mate, detergente, produtos de limpeza, charutos, linha, agulha, balas, solventes, vassouras, chicletes, chá, café, pão, linguiça e sei lá mais o que.
Tomamos duas Serra Malte e na saída, vi no fundo do balcão umas latas de cerveja bock. Pedi duas para tomar na rua e quando abrimos, percebi o prazo de validade: fevereiro de 2008.
Guardei de recordação.
Segunda-feira, de volta à BH.
Ah, sim, a coisa mais incrível: Curitiba estava com céu azul, tempo bom, e temperatura agradável, dá pra acreditar nisso?

P.S.: Não posso deixar de falar nisso: em janeiro, mandei um comentário para o blog do Ricardo Kotscho e vejam o que ele me respondeu (eu só vi isso hoje) :

"ricardo kotscho disse:
7/01/2009 às 12:57
Para André Luis Rosa e Silva, das 3h43 (não sei como voces conseguem ficar acordados até esta hora…):que bela idéia a tua! Não sei se voce é jornalista, mas o que li é uma bela reportagem sobre a região de Canudos, que conheço muito bem. Belo texto, belas fotos, voce está fazendo o que a imprensa brasileira vem abandonando: contar as histórias dos fundões do Brasil e seus personagens. Parabéns e toca em frente. Fique à vontade para contar histórias aqui no Balaio e, se quiser, pode botar um link do blog.Abraços,Ricardo Kotscho
Responder"

Gostei de saber que um dos grandes nomes do jornalismo brasileiro achou o Caldos de Cana legal.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Viagem pitoresca pelo sul do Paraná e Região do Contestado, Santa Catarina

A vida muda muitas vezes de forma rápida e definitiva. Eu havia pensado que passaria as férias de julho na Argentina, vejam só, acabei passando as férias no Paraná.
Mas valeu a pena, por várias razões. Logo no meu primeiro dia em PG, saí pra dar uma volta e encontrei o Buda, por acaso, na rua. Havia um ano, mais ou menos, que não nos falávamos, e foi legal tê-lo encontrado, justamente em PG.
Fomos à casa da Karla, que é minha amiga há pouco tempo, mas é amiga do Buda desde que os dois eram adolescentes. Eu e Karla havíamos sido convidados por nosso amigo Carlos Werlang para visitá-lo em Canoinhas. Existem algumas coisas que unem a mim, Buda, Karla e Carlos: literatura, especialmente a literatura subversiva, viagens, budismo, carros velhos e um desejo de criar situações favoráveis, que nos deem a sensação de estarmos vivos.
Então, resolvemos que iríamos a Canoinhas de vermêio, o fusca 1977 de Buda, um carro que seria perfeito para o papel de "Se meu fusca falasse" - ainda que algumas coisas que ele falasse, seriam difíceis de acreditar.


Caonoinhas, Santa Catarina.

A ideia da viagem foi em parte inspirada por um capítulo de On the Road, de Jack Kerouac. Naquele episódio, Sal, Dean e Stan Shepard se preparam para viajar para o México, desde San Francisco, em um calhambeque Ford 1937 que Dean havia comprado e mandado para a revisão, para então partirem em uma viagem de 2 mil quilômetros rumo ao sul, dias e dias em estradas empoeiradas, entre desertos e fronteiras, lentamente em busca de aventura, ao encontro do diferente.
Stan se despede do velho avô. O velho, às lágrimas, implora que ele não vá, mas assim mesmo ele parte. Nós saímos de Ponta Grossa na sexta-feira à tarde, depois de o Buda haver pegado o vermêio na oficina. Vermêio, aparentemente, é um calhambeque. Mas o motor, a suspensão e os freios estão em perfeito estado, e o fusquinha que já encarou várias aventuras preparava-se para mais uma. Desde que o comprou, Buda vem rodando o centro-sul do Brasil loucamente, carregando a família e eventualmente os amigos, para cima e para baixo.
O frio sucedeu à chuva de mais de uma semana, num clima típico do inverno no sul, e lá fomos nós, numa tarde ensolarada.


Uma imagem filosófica
A primeira parada foi em Irati, onde passamos uma noite agradável em companhia de minha irmã, meu cunhado e meu sobrinho de 1 ano e meio. Pizzas, grappa, quentão e chimarrão animaram as histórias, lembranças e conversas até mais ou menos meia-noite, quando todos fomos dormir, já que a ideia era acordar cedo e seguir viagem.

O vermêio e a caixa d'água em forma de cuia, São Mateus do Sul.
A estrada entre PG e Irati é o início da região Sul do Paraná, colonizada por tropeiros, caboclos, polacos, ucranianos e alemães. A economia rural é baseada na produção de erva-mate, no extrativismo, pecuária, feijão e maçã. A paisagem é bastante peculiar, composta por araucárias, matas, pastagens, carroças, bicicletas, varais coloridos, igrejinhas, cemitérios, casas de madeira pintadas de verde, vermelho, azul, amarelo, névoa, frio.


A turma e o vermêio, em Irati.

Valério e o "fu"

Entre Irati e São Mateus do Sul, muito frio.


Paisagem hiemal.
De Irati, fomos à São Mateus do Sul, no último trecho sem asfalto, cerca de 40 km de estrada que muito pouco mudou nos últimos 150 anos. São Mateus é um reduto da colonização polonesa no Paraná, com forte presença da cultura polaca na culinária (especialmente nos pieroguis e cracóvias) e na arquitetura (igrejas, casas e a onipresente reverência ao chimarrão, em forma de monumentos e da caixa d'água da cidade, que tem forma de cuia).



Karla, introspectiva.

Buda, em seu estado natural.

Vermêio ama o barro.
Demos uma volta pela cidade e seguimos em direção à Três Barras, já em Santa Catarina, na chamada Região do Contestado. A região tem esse nome porque foi palco de um sangrento conflito armado, envolvendo os governos de Santa Catarina e Paraná, por conta de um litígio sobre as terras do meio-oeste. Cenário de uma guerra que durou anos, matou milhares de pessoas, envolveu jagunços, dois profetas messiânicos(João Maria e José Maria), fanatismo religioso, fome, mitos, genocídio (a batalha do Irani matou mais ou menos 10 mil pessoas)e ainda o interesse especulativo da empresa norte-americana Brazil Railway Company, que desapropriou milhares de hectares de terra às margens da ferrovia, num ato que foi um dos barris de pólvora desta guerra ridícula. É uma parte da história do Brasil comparável ao episódio de Canudos, com toda certeza. Talvez o que tenha faltado para que tivesse o mesmo peso histórico e emblemático para nosso senso comum fosse um Euclides, que não houve por cá.
Canoinhas é uma das cidades desta região, que tem como centro Caçador (SC), e União da Vitória-Porto União (PR-SC).
Chegamos lá em um dia muito frio. Almoçamos no restaurante Therapia, de propriedade da família de nosso amigo Carlos. Um restaurante muito bom, com um cardápio excelente, e um bar também refinado.


Composição com bicicletas.

Uma velha casa no estilo polonês e a torre da Igreja de São Mateus do Sul



Pinhão, abóboras e criança na feira em São Mateus do Sul
Após isso, fomos até a Cervejaria Canoinense, em atividade desde 1902, de propriedade do senhor Rupprecht Loeffler, 92 anos de idade, provavelmente o último mestre cervejeiro do Brasil. A cerveja e o chope Nó de Pinho (servido em garrafas de 1 litro de refrigerantes antigos, e em canecos de chope de porcelana) caíram perfeitamente naquela tarde fria, nos dando uma sensação de que pouca diferença havia entre aquilo e uma velha cervejaria artesanal no interior da Alemanha nos anos antes da guerra.


Na divisa entre Paraná e Santa Catarina, mais frio.

Carlos e Karla, na Choperia Canoinense, provavelmente a mais antiga do Brasil.

Ein prosit!

Sr. Rupprecht Loefflel, mestre cervejeiro, e sua irmã, Dona Erica.

Onde beberíamos chope artesanal em garrafas de minuano limão?
A choperia é decorada com inúmeras fotografias, cartazes, garrafas e animais taxidermizados, que segundo dona Erika Schreiber, 88 anos, irmã de Seu Loeffler, ele mesmo caçou e empalhou. Ficamos umas boas duas horas naquele lugar fantástico e depois seguimos até o velho cemitério alemão de um distrito de Canoinhas. Ótimas fotos, ótimos momentos com ótimos amigos.
No outro dia, voltamos eu e Buda com o vermêio para Ponta Grossa (Karla voltou com Carlos).

O antigo cemitério alemão de Canoinhas.



Carlos, Buda e Karla

Na parada em Palmeira, ainda deu tempo de visitar meus amigos João, Marlene, Micheline, Jaqueline e sua filha Maria Gabriela, com quem tenho estreitos laços de amizade e por quem cultivo enorme carinho.

Reencontro com a família Oliveira, em Palmeira, Paraná, ao final de mais uma grande viagem.
Para um fim de semana chuvoso e frio, no Sul, valeu a pena demais.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A SOMBRA ESTÁ COMIGO - imagens não postadas



Finalmente, publico algumas fotos ilustrativas do texto anterior.
Estou em PG, de férias. Descobri que estou absolutamente desacostumado com o frio. E que estou morrendo de saudades de Minas Gerais. Dizem que Minas é um "estado de espírito", e agora, eu descobri porquê. Quer saber por que? Venha me visitar, minha casa está aberta aos amigos :-)
Em Ouro Preto e Congonhas do Campo, uma das coisas que chamam bastante atenção, para além da beleza do Patrimônio Histórico Nacional, é o descaso das pessoas com as fachadas e monumentos. Há um vandalismo generalizado e sem sentido, pois em verdade, a população não parece compreender que ao detonar esses monumentos, além de encher de vergonha o Brasil diante dos viajantes do mundo todo que vem aqui pra conhecer nossas pérolas barrocas, estão detonando a si mesmas, sua própria história.
Será possível fazer algo a respeito? Como educador, eu diria (ou deveria dizer) "a educação". Mas às vezes, me pego descrente... Enfim, talvez um dia isso mude. Sei lá. Vão pra Ouro Preto e vejam aquilo antes que acabe.
Na sequência, algumas imagens ilustrativas, algumas das quais me deixaram bastante indignado com nosso "barroquismo" semi-analfabeto, outras, tentativas de ilustrar o poético que permeia o ar da Vila Rica.

Ouro Preto, Igreja de São Francisco de Paula


O menino fugia da missa naquela manhã fria


O mané é tão idiota que nem o próprio nome conseguiu escrever...


Enquanto o velho homem caminha em direção à Igreja de São José.


Essa é a porta da Igreja São José, que tem um Altar-Mor criado por Aleijadinho.
Infelizmente, os escolares pichadores não parecem interessados...



Essa Vanessa deve ser tão gostosa quanto seu namorado é um corno!!!!


Igreja São José com São Francisco de Paula ao fundo


Vista geral da Cidade


Um gato folgado, com turistas e a Igreja Matriz do Pilar ao fundo


Uma dançarina em um dia de sol


Fãs do Marc Bolan, não confundam: o nome da cachaçaria é "trex", não "T. Rex". Assim mesmo, recomendo.


O nome desta singular ladeira é "Ladeira Farmacêutico Vieira de Brito"


Contraste Azul/ Barroco/ Restauração - Igreja do Carmo


Bom, por enquanto é isso. Próximos posts: Um perfil do poeta Peter Lima.
Algumas reflexões sobre o cinema de Vibes Junior.
Até mais.