sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Felás* do Paraguay

Finalmente, realizei um sonho antigo e conheci as ruínas das Reduções Jesuíticas de Jesús Tavarangué e Santa Cruz de la Trinidad del Paraná, no sul do Paraguay.
Este será o último post de 2010, no último dia do governo Lula, que, para o bem ou para o mal, marcou uma era importante na história do Brasil.
Estou  de volta ao Brasil, e em alguns dias, vou postar as impressões desta viagem marcante.
Abraços a todos os meus leitores e seguidores, muito amor, paz e justiça em 2011.

* Felás refere-se a duas coisas: primeiro, aos trabalhadores agricultores do velho Egito, e depois, ao livro " Lonesome traveler - viajante solitário", de Jack Kerouac, que tem um capítulo intitulado "Felás do México".

sábado, 18 de dezembro de 2010

RIP capitain Beefheart

Quem saberá avaliar a importância de Frank Zappa, sem mencionar a figura psicodélica, humanística, criativa, doce, blue, hard, experimental, alucinante e alucinada de Captain Beefheart?
Quando eu ouvi pela primeira vez Captain Beefheart ele já era parte do passado, da geração Woodstock, que parecia idílica mas já não éramos nós,aquilo já não nos pertencia - ainda assim, eu e meus amigos que frequentávamos o Arco da Velha, em Ponta Grossa, sabíamos identificar algo que nos tocava e nos impelia a levar em frente um conceito de rebeldia, outsider, de inconformismo que ainda está presente, para o bem ou para o mal, em mim.
Hoje, soube de sua morte.
Um artista que foi pouco reconhecido neste mundo medíocre, mas cuja influência perdurará por séculos.
Morreu aos 69 anos.
Independente de admirarmos ídolos mortos, é uma chance pra você, que não o conhece, procurar saber um pouco mais dos caminhos tortuosos que o underground percorreu ao longo do século 20 - tão distante, mas tão próximo de nós...
Obrigado, Beefheart!
I'm glad!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Sempre Noel

No post anterior, falei de algumas das minhas faixas preferidas de NOEL DE MEDEIROS ROSA.
Seguem aqui algumas músicas, para que vocês conheçam.
A ALMA DO SAMBA, UM GÊNIO, UM POETA ÚNICO E INSUBSTITUÍVEL, ao mesmo tempo IMPRESCINDÍVEL, eis NOEL.
THE SOUL OF THE SAMBA.
hope that you enjoy.

Mulato Bamba, cantada por Mário Reis:


Com que roupa?, cantada por Noel Rosa: ("Vai de roupa velha e tutu, seu trouxa!")


Palpite infeliz, com João Gilberto:



Triste cuíca, com Aracy de Almeida:



E pra encerrar, a maravilhosa "Malandro Medroso", com Noel:



Malandro Medroso
Eu devo, não quero negar,
Mas te pagarei quando puder
Se o jogo permitir,
Se a polícia consentir
E se Deus quiser.

Não pensa que eu fui ingrato
Nem que fiz triste papel!
Hoje vi que o medo é um fato
E eu não quero o pugilato
Com teu velho coronel

A consciência agora que me doeu
Eu evito concorrência
Quem gosta de mim sou eu!
Neste momento, eu saudoso me retiro
Pois teu velho é ciumento
E pode me dar um tiro!

Se um dia ficares no mundo
Sem ter nesta vida mais ninguém,
Hei de te dar meu carinho,
Onde um tem seu cantinho
Dois vivem também!

Tu podes guardar o que eu te digo
Contando com a gratidão
E com o braço habilidoso
De um malandro que é medroso
Mas que tem bom coração.

A consciência agora que me doeu
E eu detesto a concorrência
Quem gosta de mim sou eu!
Neste momento, eu saudoso me retiro
Pois teu velho é ciumento
E pode me dar um tiro!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Noel Rosa e Mineirices

HOJE, 11 DE DEZEMBRO DE 2010, COMEMORA-SE O CENTENÁRIO DE NOEL DE MEDEIROS ROSA.

preciso dizer mais?





ouçam MULATO BAMBA, ou, MENTIR, ou, AMOR DE PARCERIA, ou, PRAZER EM CONHECÊ-LO.

NOEL, I LOVE YOU.

EU TE AMO.

OBRIGADO POR ME FAZER QUEM EU SOU.

O SAMBA É PUNK.

allah akbar.


Ontem, lá estive eu na Festa da Música Brasileira, um GRADE EVENTO organizado pela FUNARTE, dirigida pelo MAMBERTI.

um show MARAVILHOSO, com o OTTO, um dos mais criativos nomes da minha geração.

 Não bastasse isso, otto convidou LIRINHHA, BEBEL GILBERTO, e de surpresa, ELZA SOARES.

MARAVILHA, não é, leitores?

sim, seria uma maravilha, não fosse o fato de que, exatamente às 0h11 (no meu celular), a FUNARTE, em nome da PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, tenha, pasmem,

CORTADO O SOM!!!!

Cortar o som de quem quer que fosse o artista seria uma tremenda sacanagem, uma burrice, uma  tremenda falta de educação.

Cortar o som de ELZA SOARES, BEBEL GILBERTO & OTTO, é no mínimo uma tremenda FALTA DE BOM SENSO.

Uma prova de que MINAS GERAIS é CARETA.

OK.

JULGUEM-ME, na jugular.

MAS É INADMISSÍVEL QUE ELZA SOARES, OTTO E BEBEL GILBERTO TENHAM O MICROFONE CORTADO.

A justificativa? "Perdoem-nos, galera. A prefeitura não deixou".

Justifica-se o bordão da geral:

EI, PREFEITO, VAI TOMAR NO CU.

É claro que isso jamais aparecerá nos sáites oficiais.

Será que vão escrever nesses sáites o que BEBEL FALOU?  que BH foi seu MELHOR PÚBLICO EM 2010??? (é claro que BEBEL falou isso ANTES DO CORTE DE SEU MICROFONE. será que ela ainda pensa o mesmo???).

Se falarem, HIPÓCRITAS.

OBRIGADO,

OTTO,

LIRINHA,

BEBEL,

ELZA.

NOEL!!!!!!

Desculpem-nos por nosso provincianismo e conservadorismo.

Isso não será exclusividade da Tradicional Família Mineira.

No Paraná, eu via coisas muito piores.

Isso é BRAZIL.

(Alguns dirão "pelo menos". eu retribuo: PELO MENOS, O CARÁLEO!!!)

ALLAH É MISERICORDIOSO, O MISERICORDIADOR.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Manifesto Contra-Cronos

A parede nua e branca é o palco para diversos sonhos, imagens, divagações. 
A mente poderosa e horrível do ser humano é capaz de criar castelos e destruí-los, inventar monstros e torná-los anjos, provocar batalhas e enredar romances. O silêncio quase tumular só é quebrado pelo tic-tac do relógio que não para, e também por longínquos sons que penetram as janelas sem vidro, anunciando que o planeta resiste, gritando que há vida. A fome está presente no organismo humano, porém o cansaço e o tédio impedem o famélico de ir atrás de comida.
O fatídico desejo da curiosidade humana em colocar-se onde jamais esteve provocou revoluções, ódios, construiu e destruiu cidades, devastou florestas e rios, singrou oceanos e encheu de lixo o planeta. E hoje, neste exato momento em que estão sendo escritas estas linhas vazias de quase tudo menos de tédio, a humanidade inteira respira apreensiva por não saber o que fazer com a tecnologia, brinquedo que criou para aprimorar seu prazer, mas que se voltou contra seu criador e agora, longe do controle outrora exercido pelos humanos, segue seu próprio caminho indefinido, fazendo de seu próprio pai o refém predileto. 
É a vingança mortal dos filhos de Cronos, que envenenaram a própria carne e o próprio sangue, e com isso conseguiram devolver em terror a bestialidade que herdaram. A humanidade adoece, vítima de seu próprio remédio. A dor e a fatalidade não desapareceram, mas aumentaram seu grau de influência sobre a pobre e desconsolada raça humana. 
Todo o passado de uma vida apenas, assim como todo o passado de toda a história humana, são incapazes de traduzir a emoção do desconhecido próximo segundo. Nenhum livro de escritor algum vale aquela página em branco que ficou por escrever, e que representa a efeméride, o transitório, o ilusório da vida sem sentido deste homem a quem faltou um segundo para continuar sua obra. 
O ser humano é solitário, seus pares na humanidade são impotentes para trazê-lo um pouco de paz. Daí a origem da guerra, esta arte saneadora qeu edifica o alicerce transformador e renovador do pensamento humano.
A raça humana é a única em que a tristeza existe como característica inata.
Não há criança que não acorde do sonho infantil num mundo melancólico, violento e irascível. Não há mulher que não sinta suas dores com um tom resignado que inclui o prazer. Não há homem que não tema seu próprio desejo por sabê-lo transitório. 
A linha em branco que ficou por ser escrita é a revelação da transitoriedade, e nem mesmo a mais poderosa e completa das ações humanas modificará esse ridículo quadro de mediocridade.
Por isso, propomos uma nova arte, uma nova estética, em que o olhar humano não esteja mais centrado no passado como construtor do futuro, mas no segundo exato em que o olhar e os gestos se fazem presentes. Isto por certo não trará fim à transitoriedade, mas olvidará o ser humano da condição de acusador-acusado por tantos erros históricos.
O Agora é uma droga imediata, que ao penetrar a veia atinge o cerne da loucura. Não nos importa o amanhã nem o ontem, não ligamos para a projeção. Queremos a paz e não nos importa mais sabê-la transitória, porque o presente não é transitório. Uma nova abordagem dos sentimentos criados pelo cérebro humano, não para torná0los qualquer coisa nova, mas para fazê-los já plenos de toda sua capacidade construtiva. 
E hoje, mais do que nunca, a construção a que nos referimos é sempre virtual, imagística, sem forma, cor, letreiro, molde palpáveis, e sua prática é a única maneira de livrar a humanidade da desorientação a que ela mesma se faz vítima ao construir o mundo da simbologia. 
O mundo dos sonhos pode finalmente libertar-se de sua prisão através da concepção artística possibilitada pelo imediato. E hoje, vê-se que os sonhos não eram tão diferentes assim da realidade, e que a realidade é relativa e maleável: pode ser manipulada, transformada, reciclada. 
Não cremos no auge por renegarmos a decadência. O ser humano não fez o que ainda pode fazer. Uma nova maneira de observar e realizar as relações, o sexo, o amor acaba de florescer do betume obscuro do lodo da civilização. Uma parede vazia de significados, que espera por alguém que a construa sem um projeto arquitetônico, apenas seguindo a própria lógica do passo a passo. 
Não há como apreender o roteiro da vida, pois o que passou deixou de existir, e o que virá não passa de falsa conjectura. 
Prometeu finalmente se liberta, e agora doma a águia que lhe devorava o fígado, partindo para a reformulação da teoria do fogo, trazendo junto a si uma outra maneira de encarar o poder de manipulação do  deus Volcano. 
E não haverá derrotados, pois não haverá vitoriosos.
E o choro, quando vier, será filho de si mesmo, não uma consequência da inculcação da mente absurda do ser humano por sua falta de percepção da verdadeira face do Divino.

São Bento do Sul, 17 de fevereiro de 2001.