quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Lições que aprendi em 2011, ou confissões de um ser em transformação


Nunca fui muito de me emocionar com os apelos sentimentais do fim de ano.
Pra falar a verdade, acho bastante forçado o clima natalino, que de repente, parece tomar conta das pessoas e fazer com que vizinhos que nunca se falam, parentes que jamais se visitam, colegas que não se suportam, passem a desaguar de forma melosa e quase histérica os "votos" de "fraternidade", "paz", etc etc etc.
Na verdade, para mim vale muito mais você dizer o que sente pelas pessoas com quem convive no dia a dia, e com ações, com práticas, com atitudes que demonstrem em que realmente acredita. Deixar para o fim do ano, pode ser tarde demais. Ou parecer hipócrita e superficial.
Hoje é a data em que um de meus mais queridos amigos, meu padrinho e mentor, faria 65 anos. Ele se foi há três e eu sinto sua falta todo dia, especialmente quando caminho pelas ruas da cidade ao por do sol, pensando em quanto eu gostaria de dividir dos meus sonhos e projetos, e no quanto eu gostaria de ouvir seus conselhos novamente, nem que fosse por uma única vez.
Mas isso é impossível, e eu tenho que me conformar.
O ano passou rápido, e em alguns momentos, eu me senti bastante confuso com minha vida e os acontecimentos em torno dela. Entretanto, 2011 foi para mim bastante intenso. Em janeiro, eu ainda morava em Belo Horizonte, e tinha ainda pouco mais de 6 meses de contrato, e estava realmente na expectativa do que viria a acontecer. O tempo passou, meu contrato acabou e eu tive que decidir o que faria. Acabei voltando para meu bunker em Ponta Grossa, onde me encontro. Confesso que retornar à casa dos pais aos 35 anos de idade, a princípio, me pareceu uma derrota. Não pela família, com quem me sinto plenamente integrado e à vontade, mas especialmente porque eu realmente não esperava ter de voltar pra cá tão cedo. Eu me sinto muito bem quando estou em Belo Horizonte, gosto muito de Minas Gerais e tinha a expectativa de passar mais alguns anos por lá. E de repente, eu cheguei de volta justamente no início do mais frio inverno dos últimos dez anos. Foi realmente difícil. Pra piorar, estava sem grana, e ainda tive decepções  profundas com velhos amigos, a quem eu muito estimava - e ainda estimo, pra dizer a verdade-, mas que me deixaram realmente pensativo sobre o que minha postura, meus pensamentos, minhas ideias poderiam significar de verdade para as pessoas a quem eu sempre considerei meus fiéis parceiros e apoiadores. 
De repente, por conta desse retorno conturbado, o que eu fazia ou pensava parecia não ter o menor sentido, nem para mim nem para as pessoas que eu esperava que compreendessem o sentido das coisas. Tudo isso, sem dúvidas me deixou bastante inseguro. Minha reação foi aceitar, uma vez mais, as cismas do destino, e tentar manter a racionalidade, e tentar enviar, na medida do possível, boas vibrações às pessoas. 
Relaxei. Lembrei que a vida é um sonho, por vezes um mar revolto e aparentemente turvo, mas que logo depois se torna algo límpido, azul-turquesa e cheio de corais coloridos. 
O exercício da compaixão, aliado a uma firmeza em relação ao que eu realmente acredito, seja como escritor, educador, ciclista, músico, agitador cultural ou como um simples ser humano, nem melhor nem pior do que qualquer outro, com suas virtudes e defeitos, foi o que me manteve equilibrado. Logicamente, contei com o apoio de pai, mãe, irmã, irmãos, sobrinhos, além de amigos que se mantiveram próximos, além de novas amizades que se tornaram caras e essenciais, e também o apoio fundamental de minha querida namorada que me aguenta e que não desistiu de mim - e ela teve várias oportunidades e mesmo motivos para fazê-lo, mas eu agradeço de coração por ela não tê-lo feito. 
O fato é que o ano passou, e eu me vi repentinamente inacreditavelmente tranquilo. Talvez mais sereno do que eu já estive em todas as minhas quase 36 primaveras - a caminho das 96.
O distanciamento de antigas relações acabou se revelando algo bom, porque me obrigou a uma reflexão profunda, em que eu pude compreender que também cometi erros e posso até mesmo ter ofendido e magoado pessoas sem sabê-lo ou sem a intenção disso. Também me provocou uma experiência inédita: a sensação de, ainda que me sentindo um tanto injustiçado, saber manter o equilíbrio para evitar traumas maiores e coisas de que eu pudesse me arrepender no futuro. E ainda por cima, me trouxe a possibilidade real de avaliar aquilo que eu espero de amizades, e aquilo que meus amigos podem esperar de mim. Pra finalizar, toda essa turbulência abriu-me a perspectiva de renovação de contatos, ideias, pensamentos, e sentimentos, e isso foi também um ponto muito positivo.
No mês de agosto, comecei a fazer algo que eu realmente gosto: dar aulas para adolescentes. Trabalhei num cursinho pré-vestibular, numa escola confessional, e acho que desempenhei bem meu trabalho. Os meninos e meninas renovaram minhas energias. Eu abandonei meus preconceitos sobre colégios confessionais. Mas só pude realizar esse trabalho porque, de repente, também, percebi que há pessoas que confiam em mim, e eu sou grato a elas pela oportunidade de corresponder a esta confiança.
Também por conta de pessoas que conhecem meu trabalho e minha ideologia como educador, tive a oportunidade de publicar quatro trabalhos para uma editora de renome nacional, algo que me deixou bastante feliz, porque pela primeira vez, tive certeza de que meus pensamentos e minhas posições a respeito da educação humana, contemporânea e pró-alunos puderam ressoar de forma incisiva pela blogosfera a fora. E ainda no segundo semestre, depois da minha volta à terra natal, participei de um filme premiado, toquei pandeiro num show em homenagem a Pixinguinha e Benedito Lacerda - outra vez, através da confiança em mim depositada por amigos, músicos de altíssimo gabarito e sensibilidade, que me permitiram participar de um momento realmente brilhante ao seu lado, ao qual eu só fiz parte por estar em PG.
E, como se não bastasse, ganhei de presente de Natal de um casal de amigos fiéis uma bicicleta!
Depois de tudo isso, olhando para trás, reflito que a ansiedade que tomava conta de meus pensamentos, ao final do primeiro semestre deste ano de altíssimas emoções, se dissipou, e acabou se tornando uma grande expectativa sobre o que vou fazer, quais serão meus projetos, quais ideias vou por em prática nos próximos meses.
As lições que eu tiro disso, e que vou procurar tornar minha regra geral de comportamento em 2012: humildade, jamais ser arrogante, ser generoso, fiel, acreditar em si mesmo, sem jamais duvidar dos outros, e sobretudo, agradecer pela vida nos ensinar que nunca nada está perdido, e mesmo aquilo que parece ruim, pode no final proporcionar coisas boas.
Espero conseguir praticar a fraternidade, a generosidade, a sobriedade, a compaixão na maior parte do tempo, em 2012. 
E espero que este blog continue a ser, junto de bicicletas, canções, fotografias, ideias e música, um instrumento para que isso se concretize.
Feliz ano novo a todos os que acompanham meus Caldos de Cana!

domingo, 4 de dezembro de 2011

SÓCRATES BRASILEIRO

A morte de alguém como Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, ídolo de gerações, dono de um estilo único, genial, que sabia ser alegre e cerebral ao mesmo tempo, é sempre comovente.
Um dia triste para o povo brasileiro. Perdemos em referência o que o Doutor nos oferecia pelo exemplo de sua cultura, seu pensamento, sua auto-crítica. Fatalidades ocorrem, mas não deixa de ser irônico perder Sócrates no justo momento em que a luta contra a burrice talvez devesse representar nossa maior batalha.
O Panteão do Futebol Brasileiro recebe outro Herói: onde já figuram Domingos da Ghia, Leônidas, Garrincha, vem completar a cena a imagem do Doutor Sócrates.