sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Em Canudos


Uma igrejinha no meio do sertão

Estou hospedado no mesmo lugar em que fiquei em 2002: a pensão de dona Coló. Uma casa simples com diária por módicos R$ 8,00.
Hoje, acordei cedo e fui à feira. Comprei castanhas de caju e um chapéu de jibão, já que meu último não sei onde foi parar. A feira tem de tudo, frutas, cereais, roupas, plásticos, produtos de primeira necessidade, carnes frescas vendidas ao sol, sem qualquer refrigeração ou higiene, tapioca, quebra-queixo, e muita gente circulando.


Meninos da Feira em Canudos


Os temperos da feira

À tarde, fui ao Memorial de Antonio Conselheiro e ao Parque Estadual de Canudos. O memorial está em reformas, mas eu pude tirar uma foto da escultura do Conselheiro. O parque, administrado pela Universidade do Estado da Bahia, tem uma estrutura precária, que se resume à área de preservação, um portal na entrada e algumas placas. Nenhum centro de visitação, nenhum guia, nenhum guarda.

Adauto, meu guia pela caatinga

Entretanto, não deixa de ser emocionante observar a região em que a Guerra aconteceu. Ao ler a última página dos Sertões, exposta na entrada do parque, eu fiquei sinceramente emocionado, pois penso que assim como o genocídio se instaurou aqui em Canudos apenas para que o orgulho ferido da República se vingasse de um bando de famélicos, e para isso lançaram mão da mais alta tecnologia, utilizada contra um povo que não dispunha de nada a não ser a certeza de que estavam lutando por eles mesmos, hoje, Israel comete um genocídio parecido contra os palestinos. Matam velhos, mulheres e crianças, covardemente, numa guerra de extermínio como foi a Guerra de Canudos.
Na volta, chorei sinceramente ao observar a paisagem sertaneja e pensar nesta loucura que é o mundo -e que sempre foram os homens.
Mas Conselheiro continua vivo. Assim como o Povo Palestino sobreviverá à esta infâmia genocida imposta pelos poderosos fascistas.
Allah Akbar.


No Parque Estadual de Canudos, sentindo-me livre como um anu vermelho

Infelizmente, não consigo postar as imagens. As conexões são muito precárias e lentas aqui, de modos que assim que eu tiver acesso a uma conexão mais ágil, eu faço um post especial com as imagens desta viagem.
Amanhã cedo, vou a Uauá e domingo, volto a Salvador, para pegar o avião para casa.

11 comentários:

  1. André, dá pra escrever um texto ao final da viagem: "A odisséia de areia" ou "A odisséia seca" ou "Sei lá".

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  2. André! Sensacional. Depois você passa todos os contatos pra eu poder repetir a aventura uma hora dessas... Um abraço!

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  3. ei, obrigada! caos e amor a todos nós! vamos aqui nos falando e, em ponta grossa ou em são paulo, nos vemos novamente.

    beijo!

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  4. Daqui uns anos tu me leva lá né?

    BeijoS

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  5. andré, qdo eu crescer, quero ser assim que nem vc, livre...
    e essas suas histórias são divinas...conte pessoalmente um dia pra mim? rs
    ainda bem que tenho vc no meu coração, assim, vc está sempre por perto e a saudade fica menor.
    beijos
    Lídia

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  6. ramon, vou te levar um charuto de cachoeira de presente.
    paulinha, obrigado. eu te passo informações com o maior prazer.
    cassandra! sem dúvidas, você será bem vinda a ponta grossa. quero ver o oficina em 2009.
    kat, se eu não te levar, você mete uma mochila nas costas, convida a jordan, compra um bom mapa do brazyl e se manda.
    lídia, conto ao pé do ouvido.
    beijos a todos

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  7. O interior da Bahia por si só é um poema, de versos simples e mensagem densa, que carece de releitura... sempre! Certamente pode-se aqui fazer a paráfrase do provérbio atribuído aos africanos primevos, de que um homem nunca toma banho duas vezes no mesmo rio, pois a água corre e o rio já não é o mesmo e o homem já é um novo homem... fica assim como sugestão para futuras reflexões do resposável pelo blog: ao invés de mais fotos, mais aforismos e "desabaforismos" da alma humana após mais esta viagem... o que se pode sentir (claro, mediante critérios que norteiem o que é publicável ou não... hehehehe) no espírito do André de 2009 que difere do André de 2002?
    Abraços e bom retorno!
    Luciano d'Miguel

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  8. querido amigo e irmão luciano:
    suas palavras calam em minh'alma como sói as palavras de um irmão poderiam fazer.
    abraços

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  9. André engraçado, mas olhando sua foto de perfil, vc me faz lembrar Glauber Rocha, também sou fã dele,embora quando ele morreu, eu fosse uma menina, hoje tenho 45. É uma pena que as grandes emissoras não dão crédito aos nossos filmes, preferindo os americanos para passar em tela quente, um horário em que quase todo mundo está em casa vendo tv. Zenaide

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  10. Zenaide, agradeço a comparação. sou mesmo um glauberiano de carteirinha, daqueles que leram "cartas ao mundo" como um manual da guerrilha cultural. eu senti muito a alma de glauber rocha lá no sertão, especialmente no alto do monte santo. obrigado pelo comentário, apareça sempre.

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