segunda-feira, 6 de julho de 2009

Andanças em Minas

Devia ter escrito há semanas, mas sou um vagabundo, só escrevo depois de me dizer milhões de vezes que o caldo de cana tá ali, me esperando pra ser solvido, e eu deitado em berço esplêndido, ou a fazer outras coisas que não escrever.
Enfim, escrevo, aqui estou, nem sei pra que, ficar dourando minha pílula tanto tempo se eu nem tenho certeza de que este blog funciona. Mas tudo bem, eu escrevo, como disse o Mário de Andrade, porque sou vaidoso e creio na valia dessas vãs palavras.
E o fato é que muita coisa aconteceu nas últimas três semanas.
Aos poucos, vou me adaptando - eu diria muito bem - à vida em Belo Horizonte. A cidade é legal, um grande centro urbano com todas as coisas que se cobra de quem vive aqui, milhões de pessoas na rua, violência na periferia, muita gente na rua, crianças, velhos, homens, mulheres, trânsito particularmente caótico, eu diria que em muitos aspectos pior do que o de São Paulo e infinitamente mais desorganizado que o de Curitiba, metrô em greve há 15 dias e sem nenhum tipo de informação aos usuários, mas pra compensar isso, muito pão de queijo e uma infinidade de bares, de todo tipo, em toda a cidade, além de parques e grandes avenidas. Eu tenho ido ao cinema, também, com certa frequência - para quem me acusar de bêbado, pelo menos, serei um bêbado cinéfilo.
Perto da minha casa tem o "Nilo's", o "Marimbondos" e o "Bar do Baiano", os três, dignos de figurarem entre os mais típicos botequins do meu Brasil varonil. E eu vi "A estrada da vida", do Fellini, em película (morram de inveja), "Ninguém sabe o duro que eu dei", documentário sobre o Wilson Simonal (quem planta cói) e hoje ou amanhã vou assistir "Loki- Arnaldo Baptista".
A cachaça é uma instituição nacional, mas não é por acaso: pude entender um pouco a variedade de sabores, processo de destilação e envelhecimento, pela primeira vez na minha vida dignamente. Dá pra compreender exatamente porque existem tantos cachaceiros por aí - as cachaças mineiras nunca são semelhantes, todos os milhares de rótulos das várias regiões do estado escondem um sabor único, uma cor única e um cheiro único. A invenção do milênio.
Fora isso, fui a Ouro Preto e acompanhei um pouco da Mostra de Cinema, que neste ano, entre outras coisas, prestou homenagem ao cinema dos anos 1970 no Brasil.
Assisti a dois curtas muito bons: "Os boçais", do gaúcho Lufe Bollini, 2008; e o paulistaníssimo "Nas duas almas", de Vebis Junior, 2008.
O filme gaúcho é um thriller que mistura seres urbanos, surrealismo e faroeste.
Nas duas almas é um filme que usa a cultura neo-rockabilly (ou psichobilly, como queiram) de São Paulo dos anos 2000 para contar uma história de amor maluca, sobre uma moça que gosta de "caras estranhos", um rapaz de topete que faz o estilo "machão" mas que acaba sucumbindo ao amor. É a velha temática dos corações partidos, da dissolução de um relacionamento, as paixões avassaladoras. Uma desilusão amorosa a partir de uma leitura que me pareceu humana, ao propor o ser apaixonado como um ser vulnerável, sempre à mercê de suas construções, estigmas, preconceitos e carências. Também é uma brincadeira sobre "os opostos se atraem", no caso uma garota "normal" que se envolve com rockabillies contemporâneos. O filme me tocou porque acho que resume um pouco o que são as relações neste mundo de formas disformes, dos grandes centros e suas loucuras que nos tornam quase sempre personagens não-humanos, travestidos de si mesmos, incorporando estéticas globalizadas. A mensagem parece ser aquela velha retórica, sempre tão pertinente: não importa se somos punks, patricinhas, vegans, emos, porra-loucas: só nos humanizamos no amor.
Continuo amanhã a falar das outras coisas.
Tem Congonhas do Campo inteira pra contar.
E fotos pra postar.
Mas isso é pra depois.

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