sexta-feira, 8 de outubro de 2010

John Lennon 70 anos


John Winston Ono Lennon (1940-1980) pouco viveu, mas sua obra continua a influenciar gerações.


John Lennon faz 70 anos, neste sábado dia 9.
O verbo está no presente propositalmente, porque, ainda que tenham se passado três décadas desde que um lunático que queria ser famoso vinculou eternamente sua imagem à do ex-beatle (na minha opinião, o lado mais cruel desse crime sem sentido é esse, mais cruel até mesmo que a morte de John), Johnny continua vivo.
É inevitável vincular sua curta vida e sua obra ao passado século XX, tão intenso e tão cruel, proporcionalmente. O século de Lennon, Gandhi, Chaplin, Yoko, Beats e Beatles, feminismo, flower power, drogas expansoras da consciência, liberação sexual é também o século de Hitler, Stalin, Garrastazu, Edir Macedo, Bush, bomba atômica, crack, repressão, AIDS, e um século em que as mulheres não podiam decidir e que até hoje deixa suas raízes em campanhas políticas que são decididas conservadoramente, através da rejeição desse direito.
De certo modo, é engraçado pensar que John e os Beatles pertencem a uma época que nunca mais voltará. Hoje, no meio da loucura intensa e sem sentido e muitas vezes insossa que é o nosso tempo, parece muitas vezes que o passado era melhor.

Lennon amava os gatos
Naquele tempo tudo parecia ser mais inocente, ao menos aos nossos olhos, de pessoas que não viveram os anos 1950/60/70 e que já vamos aos poucos ficando velhos, também. Talvez iludidos pela nostalgia de uma época que não vivemos, tudo nos parece tão bonito quando vemos as fotos, ouvimos os discos, assistimos aos filmes de Woodstock ou às ficções sobre os heróis mortos de overdose no final do flower power.

Lennon e George Harrison, em 1974

Harry Nilsson, Paul McCartney, John Lennon e Linda McCartney, 1974.

John, Yoko e Ringo Starr, no fim dos anos 1970
Mas vale lembrar que a internet era apenas um delírio militar, os discos demoravam meses pra chegar nos países fora do eixo Europa-Eua, e muitas vezes vinham mutilados, viajar era algo caro e quase impossível, telefonemas interurbanos eram um exercício de paciência, telefonemas internacionais eram uma excentricidade, escrever um texto e publicá-lo, só se a Censura deixasse, havia gente que gritava na rua por Deus e a família, e derrubavam presidentes por isso (parece que esses psicóticos ainda tem força, pois a discussão sobre o aborto ganha força e favorece aos conservadores), entre outras coisas que deixam a impressão sobre aquele tempo muito menos glamourosa.

Yoko Ono e John Lennon formaram um dos casais-símbolo do século XX
Lennon foi perseguido nos EUA, oficialmente por ter sido condenado por porte e uso de maconha na Inglaterra, durante uma operação ilegal em que ele assumiu um flagrante plantado pela polícia para livrar Yoko Ono da deportação. Na verdade, o governo conservador, careta e assassino de Nixon e seus asseclas tinha medo de que o jovem inglês provocasse uma revolução social e derrubasse o governo, as bolsas, e acabasse com a guerra do Vietnã.
Outros tempos, mas será que dá pra imaginar um Bono Vox sendo perseguido por defender uma causa política nos nossos dias?
Nem os popstars, nem as causas são os mesmos. Parece que só os governos seguem iguais...
Lennon foi assassinado aos 40 anos, e ontem Yoko Ono falou que ela crê que nesse mundo surrealista em que vivemos, ele pode voltar.
Seria mais uma ironia na história do ex-Beatle: ele, que se declarou mais famoso do que Jesus, ressuscitar dos mortos.
John Lennon nunca foi um santo, e eu penso, como seu fã desde os 9 anos (quando ganhei de presente um disco chamado "John Lennon 101 strings", com versões orquestradas de músicas dos Beatles e um texto em inglês que foi o primeiro que eu consegui traduzir), que o que ele mais detestaria, se estivesse aqui, é saber que uma porção de freaks insiste em tratá-lo como "mártir". Acho que ele vomitaria em cima das carpideiras que acham que tudo o que ele fez foi Imagine ou Happy Xmas (que foi também assassinada, como seu autor, por versões brega-sertanejas no Brasil).
Mas acredito que ele gostaria muito de saber que sua vida, suas músicas e seu pensamento iconoclasta, rebelde, feminista, e também a favor da família, do respeito ao próximo, renegando a idolatria, ainda influenciam jovens em todo mundo.
E aposto como ainda vão influenciar por muito tempo.
Lennon vive, e eu posso até mesmo sentir que ele está sorrindo, irônico, em algum lugar, meio entediado com todas essas homenagens, mas ao mesmo tempo altivo e feliz por saber que nós jamais deixaremos de amá-lo.
Love is a flower, you gotta let it grow!

10 comentários:

  1. "I seen through junkies, I been through it all
    I seen religion from Jesus to Paul
    Don't let them fool you with dope and cocaine
    No one can harm you, feel your own pain"

    Mesmo 30 anos após ter deixado esse mundo material, Lennon continua vivo, sem ter perdido um pingo de sua relevância. Façamos o que ele disse na ocasião da morte de Brian Epstein: "not to get overwhelmed by grief, and whatever thoughts we have, keep them happy, because any thoughts we have of him will travel to him wherever he is."

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  2. "Seria mais uma ironia na história do ex-Beatle: ele, que se declarou mais famoso do que Jesus, ressuscitar dos mortos."

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  3. Olá, André.
    Bonito texto. Uma homenagem merecida, sem ser "ufanista", sem nostalgia inocente. Com historicidade. Abraço.
    Almir.

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  4. Caro André!
    Mais que oportuna, e atual, o txt faz (proposital ou não) uma justa homenagem à trajetória de alguém que marcou a cultura do século XX, mesmo com as contradições (algumas das quais, bem apontadas no txt), habituais a qualquer humano. Valeu o registro! Gd abç, do amigo
    PS: qdo girar nos Campos Ge(ne)rais, acione, p/ agendarmos um chope

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  5. Excelente texto, não tinha visto na época. Ele certamente detestaria ser considerado um santo ou mártir!

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  6. Pouca gente sabe do contexto da frase ser mais popular que jesus cristo.
    A frase foi colocada fora deste contexto por um radialista idiota ...ai a grande confusão.

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  7. Muito legal, parabéns.....the dream is not over.....John will live 4 ever.

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