domingo, 6 de fevereiro de 2011

Resistência

Fazia tempo que eu queria fotografar essa casa.
Fica no centro de Ponta Grossa, na avenida Bonifácio Vilela, e é uma das últimas casas de madeira, no tradicional estilo europeu, que ainda resistem na cidade. É a única casa de madeira em toda a rua, e no centro, talvez ainda existam umas três ou quatro.
Ali vive uma velha senhora, que cria galinhas e coelhos no quintal. Avessa a conversas, talvez acreditando que eu fosse mais um dos especuladores imobiliários que vêem seu lar com os olhos de rapina e cifrões, recusou-se a falar comigo.
De qualquer modo, eu presto uma homenagem ao que eu considero uma resistência pacífica contra a especulação que destruiu a maior parte das referências arquitetônicas da cidade que um dia, dona de um charme particular, foi chamada a "Princesinha dos Campos Gerais".
Hoje, quando tudo é passado e o presente é representado por torres altas, que dão status social e enterram tudo o que possa representar sentimentos passadistas, simplesmente por ignorar que sem o passado nada se constrói, fica ali, poeticamente, uma velha casinha de madeira, habitada por uma senhora, vivendo do mesmo jeito que viveu sua vida toda, navegando à deriva em meio ao concreto armado que nem sabe ser dele a origem da verdadeira decadência.

Entre prédios, torres e concreto armado, o passado resiste, à sua maneira
 El portón de los sueños

O desenho na calçada é como uma película de um filme antigo

Uma catedral para uma cidade que não existe mais

Um portal para outra dimensão?

A escada, a porta e as janelas

Resistir até o fim!

Jardim antigo com as rosas da memória

Acreditem: isso está no centro de PG

Até quando, eu não sei...

P.S.: Gostaria de indicar o Blog do meu querido Luan Gabriel, um garoto maravilhoso, com ótimas ideias e uma escrita particularmente deliciosa. Hoje, ele vive em Macapá, e seu blog fala sobre seu cotidiano. Acessem e se deliciem com o "cotidiano humano" do Luanzito: http://meucotidianohumano.blogspot.com/

16 comentários:

  1. Belo registro, ainda resta algo a se ver na avenida... abraço! Rafael

    ResponderExcluir
  2. Legal André, você acabou matando uma curiosidade minha em relação à essa casa.
    Sabe, lembro-me quando eu voltada da aula e usava a Bonifácio Vilela como caminho alternativo e com isso me lembro dessa casa desde os anos 80.
    Abraços e belas fotos!!!

    ResponderExcluir
  3. oi André,
    gostei muito da foto, me lembra bem de Ponta-Grossa, pena que a moradora não conversou com vc. Ela resiste. Só não sei como ela resistiu aos teus encantos. bjs, Leni

    ResponderExcluir
  4. Oi, amigo
    Adoro portões e portas, principalmente aquelas que revelam histórias, mistérios...
    Adorei a casa, tomara que não seja substituída por uma caixa de concreto.
    Fiquei pensando: há quanto tempo está lá... que cores ficariam bem nas tábuas... Abraço! Nelba

    ResponderExcluir
  5. Que lindo oque você escreveu, André! Legal sua perspectiva, longe do que as pessoas em geral pensam hoje em dia, onde só se interessam por luxo e status. Eu morei na Bonifácio por 2 anos, e distraída que sou, nunca reparei nessa casa. Vou prestar mais atenção quando eu passar por lá! Adorei a sombra do portão na calçada! Só você mesmo para descobrir essas coisas! heehuhe!! Beijão!

    ResponderExcluir
  6. Nossa, afude!
    Meus parabéns mais uma vez André...
    Que casa linda!E sério, é difícil de acreditar
    que está em Ponta Grossa. Good Job!
    Beijocas

    ResponderExcluir
  7. Boa mano. Vc sabe dizer se a casa é tombada? Se não é deveria ser. Acho que tem como verificar isso ou mesmo ver se ai na sua cidade tem algum orgão de tombamento. A cidade é um museu a céu aberto e andar por ela deveria ser um passeio gratuito por todas as épocas desde a sua fundação. Abraços. Arroiz

    ResponderExcluir
  8. obrigado a todos pelos comentários.
    arroiz, pg tem um órgão patrimonial, mas a coisa lá é tão bizarra que acontece sempre o seguinte: se o conselho de patrimônio público resolve tombar algo, imediatamente, a casa cai.
    infelizmente, em minha cidade quase todas as referências arquitetônicas foram demolidas a partir de 1978 - isso inclui, pra começar, a catedral de santana, o pátio da rede ferroviária, a cervejaria adriática (criadora da marca original, posteriormente comprada pela antártica paulista) e recentemente, as indústrias wagner, do qual só sobrou a chaminé (muitos conselheiros comemoraram isso como uma grande vitória do patrimônio público). não tem jeito, é uma batalha perdida. quando a dona da casa decidir vendê-la ou deixar esse mundo, fatalmente ela será demolida e se tornará mais um prédio funcional com apartamentos caros de vidro azul. em pg, há alguns anos, um prefeito declarou sobre a demolição do prédio da cervejaria que "cultura não enche a barriga de ninguém". é um caso perdido e eu decidi não sacrificar minha vida e meus sonhos em nome dessa causa quixotesca. um dia vc vai lá comigo e eu te explico com exemplos isso tudo.
    abraço

    ResponderExcluir
  9. Resistência antes que tudo acabe!!!

    ResponderExcluir
  10. Tô ligado nessa casa e nessa véia, entreguei uma conta dágua pra ela qdo trabalhava na sanepar. Eu queria ter tirado uma foto da casa de caubói de olarias, parecia um daqueles barracos de filme de faroeste, só a casinha meio torta no meio de um descampado com uma chaminá do tempo das olarias de olarias, nem poste de luz ou demais modernidades podiam ser vistas no enquadramento q eu pensei. Mas agora fodeu, meteram uma construção mais moderna junto da casa velha. Tem outros lugares q eu quero fotografar ainda, casas no meio do mato bem perto do centro, mas isso só despois deu ter cambra...

    ResponderExcluir
  11. Olá André

    Já tinha reparado nesta casa pq fica no meu caminho para a UEPG. Também já tinha me perguntado como esta casa resiste ao concreto armado por todos os lados???
    abs

    ResponderExcluir
  12. Realmente linda, adorei o portão. Pena que em nossa cidade não tenhamos muita vontade política de conservar o passado.

    ResponderExcluir
  13. Nossa, gostei muito do seu post. Faço especialização em patrimônio cultural. Uma das coisas fundamentais para a preservação é a população se reconhecer nele. Alguns demonstraram isso aqui, mas haveria de se averiguar a abrangência dessa identificação. Vc falou sobre derrubarem as construções quando anunciam o processo de tombamento e de fato isso acontece mesmo e em todo Brasil. Mas geralmente acontece quando o dono não tem apego ao seu bem ou quando ele não compreendo o que viria a ser o tombamento, quais benifícios e deveres de um proprietário de bem tombado. Você citou uma série de construções que eu como arquiteta adoraria conhecer! E que talvez tivessem relevância além de municipal, estadual e até mesmo federal. E apesar de capengas, vejo alguns exemplos legais de preservação no Brasil. Desculpa perguntar, mas você já teve contato com o Iphan?

    ResponderExcluir
  14. o órgão citado é o COMPAC, que foi capitaneado durante muitos anos por Carlos Tavarnaro, ex-candidato a prefeito e explorador do mercado imobiliário de Itacweretown, sendo casado com uma ex(?)secretária municipal da atual administração.
    Só uma pegunta: se não conseguiste a entrevista dela, como foi o processo para as fotos de dentro do terreno?
    Grande abraço e siga teu caminho com o blog, mano!
    PereBéns!

    Luciano d'Miguel - ex-vestibulando de arquitetura.

    ResponderExcluir

Eu aprecio os comentários aos meus posts. A identificação não é obrigatória, mas sempre agradeço àqueles que dizem ao menos seu nome. Não deixe de comentar o que achar interessante! Obrigado.

I really like comments to my posts. Identification is not required, but I will apreciate if you let me know who you are. Make your comments to all that you enjoy in this blog! Thank you.