Aos 80, Yoko Ono continua ativa, criativa e controversa. (imagem fonte aqui)
Imagine, leitora, que você tenha nascido
e sido educada no seio de uma família rica, tradicional e respeitável. Com aptidão
musical, seria estimulada a estudar piano. Imagine, ainda, que a mandassem estudar numa
renomada escola de arte. Ali, após se destacar como aluna, acabaria amiga e
colaboradora dos principais artistas de vanguarda do seu tempo: John Cage, Andy
Warhol, Jasper Johns, Stockhausen, entre
outros.
Junto de seu marido, um dos grandes
músicos do século 20, você encabeçaria uma campanha mundial pela paz, que teria
grande repercussão na imprensa e mobilizaria milhões de pessoas em inúmeros
países. Suas propostas estéticas antecipariam tendências musicais, artísticas e
comportamentais. Sua arte, ligada intimamente ao feminismo, à liberação sexual
e aos direitos civis, questionaria o tradicional papel assumido pelos gêneros,
e ajudaria a por em xeque os padrões morais da sociedade. É difícil não imaginar
que uma trajetória como essa não acabasse, ao final, reconhecida e aclamada. Pois
não é o que acontece com Yoko Ono, que completa hoje 80 anos.
Chamada de “a mais famosa artista
anônima do mundo” por John Lennon, a vida com o ex-beatle, longe de trazer reconhecimento,
levou à acusações difamatórias. A mais infame é de que teria sido responsável
pela separação dos Beatles – mágoa que o beatlemaníaco mais xiita ainda insiste
em carregar, mesmo depois de 40 anos. Ignorada e ridicularizada por parte da
crítica e do showbiz, Yoko foi
tachada como excêntrica e incompreensível. Com John Lennon, foi perseguida e
vigiada pelo governo Nixon. Acabou por testemunhar o assassinato do marido, pai
de seu filho de 5 anos.
Nos últimos quinze anos, entretanto,
o público mais jovem e distante das tolas polêmicas da década de 70, tem demonstrado
grande interesse por sua música. Yoko também foi homenageada por museus nos
EUA, Europa e Japão. No Brasil, em 2007, a retrospectiva organizada pelo CCBB
recebeu milhares de visitantes. Ela reuniu a Plastic Ono Band, em 2009, lançou o
primeiro disco de inéditas desde 1985 e fez vários shows. Sua música foi revisitada
por artistas como Pet Shop Boys, Of Montreal, Flaming Lips, Lady Gaga. Cantoras
brasileiras, entre elas Cida Moreira, Zélia Duncan e Angela RoRo, gravaram canções
de Yoko no disco “Mrs. Lennon” (2010). O lado ativista se manifesta na campanha
pelo uso de fontes de energia alternativa e limpa, na campanha pelo controle
das armas e no apoio ao movimento gay.
Apesar de alguns setores das
artes, da imprensa e do público continuarem “anti-Yoko”, ouvir os álbuns como Feeling the space (1974), e Approximately infinite universe (1972), pode
surpreender aos que pensam nela como a “viúva negra do rock”, e deixará claro o
quanto Yoko foi injustiçada pela crítica musical e pelo público bitolado.
*Publicado em conjunto com o site Cultura Plural.
*Publicado em conjunto com o site Cultura Plural.
super, mega e hiper interessante... Parabens André!
ResponderExcluirVanessa correa