segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

YOKO ONO, VIVA!



Aos 80, Yoko Ono continua ativa, criativa e controversa. (imagem fonte aqui)

Imagine, leitora, que você tenha nascido e sido educada no seio de uma família rica, tradicional e respeitável. Com aptidão musical, seria estimulada a estudar piano. Imagine, ainda, que a mandassem estudar numa renomada escola de arte. Ali, após se destacar como aluna, acabaria amiga e colaboradora dos principais artistas de vanguarda do seu tempo: John Cage, Andy Warhol,  Jasper Johns, Stockhausen, entre outros.

Junto de seu marido, um dos grandes músicos do século 20, você encabeçaria uma campanha mundial pela paz, que teria grande repercussão na imprensa e mobilizaria milhões de pessoas em inúmeros países. Suas propostas estéticas antecipariam tendências musicais, artísticas e comportamentais. Sua arte, ligada intimamente ao feminismo, à liberação sexual e aos direitos civis, questionaria o tradicional papel assumido pelos gêneros, e ajudaria a por em xeque os padrões morais da sociedade. É difícil não imaginar que uma trajetória como essa não acabasse, ao final, reconhecida e aclamada. Pois não é o que acontece com Yoko Ono, que completa hoje 80 anos.

Chamada de “a mais famosa artista anônima do mundo” por John Lennon, a vida com o ex-beatle, longe de trazer reconhecimento, levou à acusações difamatórias. A mais infame é de que teria sido responsável pela separação dos Beatles – mágoa que o beatlemaníaco mais xiita ainda insiste em carregar, mesmo depois de 40 anos. Ignorada e ridicularizada por parte da crítica e do showbiz, Yoko foi tachada como excêntrica e incompreensível. Com John Lennon, foi perseguida e vigiada pelo governo Nixon. Acabou por testemunhar o assassinato do marido, pai de seu filho de 5 anos.

Nos últimos quinze anos, entretanto, o público mais jovem e distante das tolas polêmicas da década de 70, tem demonstrado grande interesse por sua música. Yoko também foi homenageada por museus nos EUA, Europa e Japão. No Brasil, em 2007, a retrospectiva organizada pelo CCBB recebeu milhares de visitantes. Ela reuniu a Plastic Ono Band, em 2009, lançou o primeiro disco de inéditas desde 1985 e fez vários shows. Sua música foi revisitada por artistas como Pet Shop Boys, Of Montreal, Flaming Lips, Lady Gaga. Cantoras brasileiras, entre elas Cida Moreira, Zélia Duncan e Angela RoRo, gravaram canções de Yoko no disco “Mrs. Lennon” (2010). O lado ativista se manifesta na campanha pelo uso de fontes de energia alternativa e limpa, na campanha pelo controle das armas e no apoio ao movimento gay.

Apesar de alguns setores das artes, da imprensa e do público continuarem “anti-Yoko”, ouvir os álbuns como Feeling the space (1974), e Approximately infinite universe (1972), pode surpreender aos que pensam nela como a “viúva negra do rock”, e deixará claro o quanto Yoko foi injustiçada pela crítica musical e pelo público bitolado.

*Publicado em conjunto com o site Cultura Plural.

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