sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ainda o Pelô: um artista revolucionário

Conheci Raimundo Bida por acaso. Pedi fogo para acender um charuto (fumei inúmeros aqui robustos aqui na Bahia) e então, vi seu atelier.
Bida é um autodidata, nascido em Nazaré das Farinhas, cidade do Recôncavo. Suas pinturas são de grande expressividade. Fiquei absolutamente encantado pela sua "fase azul", que mostra pessoas do povo em situações cotidianas, em tonalidades índigo.
O que era pra ser um palito de fósforos acabou por se tornar uma visita de umas duas horas. Ficamos (eu e as argentinas...) um tempão em seu atelier, falando sobre o Brasil, a Bahia, o mundo. Nossa indignação é parecida, e nossos anseios também. Foi como encontrar um irmão. Bida é artista reconhecido e premiado em vários salões nacionais e internacionais, e chamá-lo de "naïf" é resumir de forma incorreta sua arte - seus quadros, na verdade, vêm da tradição tropical de um Portinari ou um Di. Tá bom, não sou crítico de arte, mas foi isso que vi e senti.
Ele me contou que tentou um financiamento a partir da Lei de Incentivo à Cultura, para editar e distribuir em escolas baianas um catálogo seu, mas disse que foi preterido porque ao que parece a oficialidade baiana preferiu financiar "psirico". Para quem não sabe, "psirico" é a nova moda da "música" baiana. O maior hit desses caras é uma música cujo refrão brada às moças que "ralem a xana no asfalto". Eles conseguiram financiamento de órgãos oficiais para gravar cd, produzir show e tocar em eventos oficiais. Coisa pouca, cerca de R$ 300 mil reais. E Bida não conseguiu os R$ 150 mil que necessitava para editar seu livro.
Isso é Brasil.
De qualquer maneira, é sempre bom encontrar um grande artista que pensa como você, porque assim não nos sentimos sozinhos em nossa indignação e em nossos sonhos.
Amanhã postarei algo sobre Cachoeira.
Marcelo e Susan chegaram hoje e isso prova como são meus amigos.
Eu e Raimundo Bida, um dos grandes artistas baianos contemporâneos.

2 comentários:

  1. E o pior... daqui a alguns dias esse tal de psirico estoura aqui no sul, enquanto o Bida aí nunca vai ser conhecido...

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  2. Concordo com vc João Carlos, nasci em Salvador, morei em São Paulo 9 anos, mas não curto esse tipo de musica, Alegria alegria, de Caetano Veloso foi censurada nos anos 60, e hoje pode-se gravar indecência, ironia, há mulheres que curtem e dançam esssas músicas.Zenaide

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