quarta-feira, 21 de julho de 2010

My world is empty


Photo by Kristofer Buckle, disponível no site www.diamandagalas.com

Fiz uma das grandes descobertas da minha vida musical: Diamanda Galás.
A cantora/ compositora/ pianista de origem grega, nascida nos Estados Unidos, passou a ser para mim uma das mais importantes referências. Quando descubro algo como Diamanda Galás, percebo o quanto o fato de ser fruto de uma cidade do interior do Paraná pode ser nocivo para o desenvolvimento e expansão da alma e dos pensamentos de uma pessoa sensível. Ao mesmo tempo é paradoxal que eu tenha ouvido falar dela pela primeira vez aqui: estou em Ponta Grossa, para onde vim passar uns dias com o objetivo de ficar com a família - diga-se de passagem, a única real e sincera razão para eu estar aqui neste momento - e, obviamente, tudo aqui me afetou profundamente, como não poderia deixar de ser.
Não se trata de rancor, mas de constatação: é muito provável que PG seja insignificante o suficiente para não ser mais nem menos do que qualquer cidadezinha interiorana, com suas bizarrices, sua superficialidade, seu tédio, sua dificuldade em mudar - quer dizer, em avançar, já que a cidade sempre muda, e a meu ver, quase sempre para pior -, mas o problema é que eu nasci aqui e aqui passei a maior parte de minha vida, minhas experiências, minha educação formal e sentimental. Portanto, não consigo jamais ser objetivo nem mesmo razoável ao analisar a cidade e sua cultura.
Obviamente, uma análise assim é uma forma disfarçada de fazer uma auto-análise, do que eu sinto e do que eu me ressinto. Mesmo eu sendo um "pária" (como diz um amigo meu sobre aqueles que como nós não herdaram nenhuma fortuna, nem terras, sempre viveram na periferia ou na margem, e que por pura insistência, talvez até mesmo uma ponta de ousadia e arrogância, conseguiram fugir ao estigma que se nos esperava), ainda me sobrou uma certa iluminação para diferenciar aquilo que não me interessa daquilo que me faz bem.
Estarei certo ou errado? Já não sou mais tão jovencito, e é óbvio que muitas coisas me deixam inquieto, mas de uma coisa eu tenho certeza: não me arrependo por ter sido a vida toda um outsider - ainda que há uns dez ou quinze anos, isso fizesse um sentido muito diferente do que faz agora, já que naquele tempo, ser outsider era mais uma defesa instintiva e uma tentativa de se integrar ou de se afirmar. Hoje, isso passa a ser uma característica inerente e consciente (até certo ponto) daquilo que sou e que pretendo vir a ser.
Diamanda Galás foi descoberta por mim apenas agora, e foi numa noite fria, tediosa e deprimente em minha cidade natal (isso me faz lembrar de uma música de Lou Reed e John Cale, feita para Andy Warhol, "Small town"), e como eu dizia, não haveria lugar melhor para encontrar uma referência artística, feminina e humana fundamental do que aqui mesmo. Eu acabo de conhecer uma artista que sintetiza muito daquilo que eu penso e sinto sobre o mundo em que vivemos.
Fiquem aí com um clipe da música "My world is empty without you", gravado em 1997. E se interessar, procurem mais dessa figura maravilhosa.

Um comentário:

  1. o bom de estar em um lugar que pouco nos convida a sair, é a possibilidade de nos encontrarmos com nós mesmos. e (re) descobrimos novos gostos, novos amores e novos sons que podem tocar mais ainda a nossa alma.
    fico feliz por vc. a oifm salvou sua vida ontem. =D
    beijo

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