quinta-feira, 7 de maio de 2015

Yoko Ono, de novo.

*Todas as imagens que ilustram esta postagem são de propriedade do MoMA e têm autorização de uso.

O mais importante museu de arte moderna do planeta acredita que a arte de Yoko Ono é fundamental para o século 20. Por isso, resolveu homenagear a artista com uma retrospectiva intitulada "Yoko Ono: One Woman Show 1960-1971", que estreia dia 17 de maio e fica em cartaz até 7 de setembro de 2015, no MoMA, e está instalada numa das prestigiosas galerias do sexto andar do prédio principal do Museu, em Nova York. 
Mas, para muita gente, Yoko ainda é sinônimo de controvérsias. A mais maledicente, especialmente porque há muito superada por todos os remanescentes envolvidos, é de que ela "foi responsável pelo fim da maior banda do mundo". Quantos dos que pensam assim, no entanto, seriam capazes de indicar o período em que Yoko e John foram casados? Ou então, citar dentre as canções de Yoko, only, quais as mais significativas? 
Na opinião do curador da exposição, Klaus Biesenbach, "Nos anos 60, Yoko Ono foi uma artista influente, historicamente relevante e antecipadora de tendências, trabalhando em Londres, Tóquio e Nova York. Suas realizações estão quase ofuscadas pela fama. Nós queremos descortiná-las". 
O que Biesenbach afirma, qualquer um que tenha a mente aberta suficientemente para fugir da idolatria aos Beatles ou conheça um mínimo da história da arte, já sabe há muito tempo. Muitos dos detratores de Yoko Ono assim agem por:
Yoko Ono durante a performance "Cut Piece", no Carnegie Hall, 1965. 
A) desconhecimento ou desconsideração proposital do trabalho de Ms. Ono DEPOIS da morte de John, e, fundamentalmente, ANTES dela ter se tornado Ms. Lennon.
B) desconhecimento ou desconsideração do trabalho que a "feiticeira" (yes, i'm a witch) fez DURANTE o período em que esteve casada com John - e que inclui obras colaborativas e outras totalmente independentes (ouçam o disco "A Story", gravado em 1974, mas somente lançado em 1997);
C) total desconhecimento ou desconsideração pelo que ela vem fazendo a partir dos anos 2000, quando retomou de maneira intensa sua carreira - que, diga-se, jamais havia sido interrompida totalmente, apenas tivera o ritmo reduzido pelo trauma pós-Lennon (ainda assim, ela lançou 3 discos-solo entre 1981-85).
Quando um fã de John ou dos Beatles rejeita Yoko, significa que, na verdade, sua compreensão sobre a obra de John Lennon apresenta considerável lacuna. Manter tal gap corresponde a recusar a obra de uma das artistas mais significativas do nosso tempo. Dizendo de outro modo: não há nada que justifique a desconsideração pelo trabalho artístico de Yoko Ono, a não ser a malemolência ou, pior, o puro preconceito.
Ono sobreviveu às piores tormentas, foi caluniada, difamada, teve sua obra acusada de incompreensível e foi caricaturizada por isso. No dia seguinte à morte do marido, cena torpe da qual foi testemunha ocular, isso tudo assumiu dimensão muito mais ampla e aterradoramente cruel do que havia sido. O bullying intenso a que ela fora submetida na década de 1970 tornou-se motivo de vergonha e arrependimento para quem o praticava. 
"Pintura para ver no escuro". 1961. Coleção MoMA. Foto de G. Maciunas. 
Hoje, sua obra é novamente revisitada, e o melhor, significativamente endossada pelo MoMA, sem os velhos clichês estúpidos, reconhecida por seu valor dentro do contexto do desenvolvimento da arte no
século 20. 
Não custa lembrar: a turma de Yoko Ono antes do seu envolvimento com o showbizz e a beatlemania tinha gente como Maciunas, Cage, G. Brecht, Knowles, Mac Low, Higgins, Beuys. Essa gente, por sua vez, era influenciada pelo grupo C.O.B.R.A e por Dadá, Marcel Duchamp & Allan Kaprow.
A artista japonesa radicada nos Estados Unidos é um raro exemplo de coerência entre vida e obra. Seu nome é sinônimo de força, compaixão, coragem, firmeza. Sua arte, sinônimo de complexidade estética, amor, leveza, pureza, delicadeza, experimentalismo e profundidade, que surgem, na maior parte, da esperança e do humor que ela sempre carregou consigo, mas não esquecem de pagar seu óbolo à dor, à revolta e ao sentimento de injustiça contra a censura. Afinal, não existe forma de censura mais cruel ou definitiva do que a pena de morte. Alguém que teve o marido assassinado diante dos seus olhos não poderia pensar de outra maneira.
Yoko Ono tem 82 anos de idade, e continua a viver em Nova York.


Yoko diante da série de fotografias da performance "Big Piece", que integram a exposição no MoMA, 2015.

Um comentário:

  1. Gosto mto da Yoko e dos trabalhos dela, ela é uma artista mto sensível. Um dos meus preferidos (acredito que um dos mais famosos tbm) é o "Ceiling Painting", tbm conhecido como o "Yes Painting", de 66.

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