Sempre tive uma certa atração por cemitérios. Por várias razões, os chamados "campos santos" me chamam atenção desde a mais tenra idade. A expressão artística existente nos mausoléus e monumentos, e mesmo a maneira como os túmulos mais simples expressam a morte e o mistério que a envolve, são objeto de interessante reflexão sobre os caminhos e ações da vida humana.
Por vezes, apesar do estado definitivo que a morte representa, é possível perceber que a representação da morte nos cemitérios é uma forma de se manter viva a aura da pessoa querida falecida. Os túmulos e mausoléus, de hoje e de outrora, são uma tentativa de permanência, mesmo diante da inexorável evidência de que a morte é para sempre, independente da crença de cada um num post-mortem glorioso, seja cristão, islâmico, kardecista, umbandista, budista, hinduísta ou outra religião.
Assim, as Pirâmides com sua suntuosidade, os mausoléus de heróis de guerra, ou de escritores, cantores, líderes religiosos e políticos são construídos, arquitetonicamente, como uma forma de afirmar que a presença do morto continua, mesmo que em ideal.
O fato é que a morte nos iguala. Seja envolto num ataúde de mogno com as alças douradas e o fundo de veludo vermelho, seja num humilde enterro em uma periferia, todos ficamos iguais diante do rigor mortis.
Neste post, está presente um olhar sobre o Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte. Cemitério mais antigo da cidade, e também o maior, possui milhares de túmulos que em determinados momentos, diante da localização geográfica, se confundem com a cidade ao fundo e dão um aspecto curioso de continuidade. Numa tarde silenciosa e com uma luz apropriada (ainda que meu equipamento seja chinfrim), cheguei a pensar em alguns instantes que a cidade inteira seria como um grande cemitério, e que o Bonfim apenas seria sua extensão - ou vice-versa: a cidade contigua ao Bonfim, com a Serra do Curral e grandes nuvens ao fundo.
Um aspecto peculiar foi a presença de uma senhora a limpar os túmulos e dar de comer aos muitos gatos que habitam o cemitério. Fui conversar com ela e conheci uma figura de grande humanismo: dona Elza Ribeiro, que toma conta dos felinos e cuida especialmente do túmulo de Irmã Benigna. Considerada a santa milagreira do Bonfim (todo cemitério tem ao menos um túmulo de alguém a quem se dirigem preces e a quem se atribui a realização de milagres), o túmulo de Irmã Benigna é repleto de placas em agradecimento a graças alcançadas. Dona Elza é uma espécie de guardiã desse túmulo e me disse que diariamente vai ao Bonfim para limpá-lo, depois de dar de comer aos gatos, a quem dá nomes: Roberto, Diego, Ritinha, Oncinha, entre outros.
A vida se apresenta sutil e intrigante no lugar que representa seu fim.
A tênue linha que separa os vivos dos mortos
Oncinha
Ritinha
Roberto
Dona Elza, dedicação aos mortos e aos gatos
No túmulo de Irmã Benigna, a devoção dos que tiveram graças alcançadas
Uma cena de carinho
Morto há quase cem anos, mas com a mesma fleuma de quando estava vivo.
Singing Om
And your bird can sing
Um anjo que chora
lindo post
ResponderExcluirParabéns, muito sensível. Abs. Almir.
ResponderExcluirRealmente tanto o cemitério como as fotos estão excelentes, não obstante a ótima qualidade das reflexões do autor do blog. Lembram-me as madrugadas contemplativas nas entranhas do cemitério São José, em pleno coração da Tristeza dos Cantos. Há inclusive o pé de um amigo que não se olvida de um desses momentos, em que dormi sobre a lápide e acordei absolutamente sozinho... hehehehehe!
ResponderExcluirLuciano d'Miguel
valeu, giu.
ResponderExcluirobrigado, luciano. quanto ao fato de vc acordar sozinho no meio do municipal, só posso dizer que nós achamos que vc tivesse morrido. heuiaheuaehaeuea.
almir, obrigado, também.
Oi André,
ResponderExcluirMuito bom este artigo sobre os cemitérios, já que com certeza será o lugar comum dos ricos e pobres, dos poderosos e dos desconhecidos, a grande e unica certeza de nossas vidas. ...
Sobre o Bonfim, durante muito tempo ele foi o reduto dos ricos e poderosos , mas que com a abertura de novos campos santos foi perdendo um pouco de sua pkmpa. Ainda prevelece como tradicionals reduto de sepultamento dos membros das antigase tradicionais familias .
Belas fotos e este artigo sobre os gatos e sua tratadora, que eu não conhecia...
Grande abraço
João batista
Gosto de fotos de cemitérios. Parabéns, tudo lindo.
ResponderExcluirobrigado, caroline e joão batista, pelos comentários.
ResponderExcluirMuito bonita postagem. Cemitérios são lugares de vida, embora deva-se ter delicadeza para percebê-la.
ResponderExcluirClaudia
Uma vez um povo foi correr de madrugada no cemitério da Vila Marina (acho q é Vila Marina) e acabou quebrando um túmulo e caindo la dentro. Eles fugiram com um pedaço de crânio e levaram no bar, onde todo mundo comeu um pedaço pra ver qualé.
ResponderExcluirEste cemitério é maravilhoso.
ResponderExcluirUm local que sempre visito, pois me sinto em paz e posso ficar mais próxima de alguns entes que ali jazem.
Nunca encontrei com a dona Elza, mas já tive uma história interessante com outra senhora e alguns cães no túmulo da Irmã Benigna.
Parabéns pelo post!
que bom que vc gostou do post, mariana! o bonfim tem uma das melhores vistas da cidade. neste dia, em particular, a luz estava ótima. abração e apareça sempre!
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