segunda-feira, 11 de abril de 2011

Cemitério do Bonfim

Sempre tive uma certa atração por cemitérios. Por várias razões, os chamados "campos santos" me chamam atenção desde a mais tenra idade. A expressão artística existente nos mausoléus e monumentos, e mesmo a maneira como os túmulos mais simples expressam a morte e o mistério que a envolve, são objeto de interessante reflexão sobre os caminhos e ações da vida humana. 
Por vezes, apesar do estado definitivo que a morte representa, é possível perceber que a representação da morte nos cemitérios é uma forma de se manter viva a aura da pessoa querida falecida. Os túmulos e mausoléus, de hoje e de outrora, são uma tentativa de permanência, mesmo diante da inexorável evidência de que a morte é para sempre, independente da crença de cada um num post-mortem glorioso, seja cristão, islâmico, kardecista, umbandista, budista, hinduísta ou outra religião. 
Assim, as Pirâmides com sua suntuosidade, os mausoléus de heróis de guerra, ou de escritores, cantores, líderes religiosos e políticos são construídos, arquitetonicamente, como uma forma de afirmar que a presença do morto continua, mesmo que em ideal.
O fato é que a morte nos iguala. Seja envolto num ataúde de mogno com as alças douradas e o fundo de veludo vermelho, seja num humilde enterro em uma periferia, todos ficamos iguais diante do rigor mortis.
Neste post, está presente um olhar sobre o Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte. Cemitério mais antigo da cidade, e também o maior, possui milhares de túmulos que em determinados momentos, diante da localização geográfica, se confundem com a cidade ao fundo e dão um aspecto curioso de continuidade. Numa tarde silenciosa e com uma luz apropriada (ainda que meu equipamento seja chinfrim), cheguei a pensar em alguns instantes que a cidade inteira seria como um grande cemitério, e que o Bonfim apenas seria sua extensão - ou vice-versa: a cidade contigua ao Bonfim, com a Serra do Curral e grandes nuvens ao fundo. 
Um aspecto peculiar foi a presença de uma senhora a limpar os túmulos e dar de comer aos muitos gatos que habitam o cemitério. Fui conversar com ela e conheci uma figura de grande humanismo: dona Elza Ribeiro, que toma conta dos felinos e cuida especialmente do túmulo de Irmã Benigna. Considerada a santa milagreira do Bonfim (todo cemitério tem ao menos um túmulo de alguém a quem se dirigem preces e a quem se atribui a realização de milagres), o túmulo de Irmã Benigna é repleto de placas em agradecimento a graças alcançadas. Dona Elza é uma espécie de guardiã desse túmulo e me disse que diariamente vai ao Bonfim para limpá-lo, depois de dar de comer aos gatos, a quem dá nomes: Roberto, Diego, Ritinha, Oncinha, entre outros.
A vida se apresenta sutil e intrigante no lugar que representa seu fim.





A tênue linha que separa os vivos dos mortos




Oncinha
 
Ritinha

 Roberto


 Dona Elza, dedicação aos mortos e aos gatos

 No túmulo de Irmã Benigna, a devoção dos que tiveram graças alcançadas
 Uma cena de carinho

 Morto há quase cem anos, mas com a mesma fleuma de quando estava vivo.
 Singing Om

 And your bird can sing


Um anjo que chora





11 comentários:

  1. Parabéns, muito sensível. Abs. Almir.

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  2. Realmente tanto o cemitério como as fotos estão excelentes, não obstante a ótima qualidade das reflexões do autor do blog. Lembram-me as madrugadas contemplativas nas entranhas do cemitério São José, em pleno coração da Tristeza dos Cantos. Há inclusive o pé de um amigo que não se olvida de um desses momentos, em que dormi sobre a lápide e acordei absolutamente sozinho... hehehehehe!

    Luciano d'Miguel

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  3. valeu, giu.

    obrigado, luciano. quanto ao fato de vc acordar sozinho no meio do municipal, só posso dizer que nós achamos que vc tivesse morrido. heuiaheuaehaeuea.

    almir, obrigado, também.

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  4. Oi André,

    Muito bom este artigo sobre os cemitérios, já que com certeza será o lugar comum dos ricos e pobres, dos poderosos e dos desconhecidos, a grande e unica certeza de nossas vidas. ...
    Sobre o Bonfim, durante muito tempo ele foi o reduto dos ricos e poderosos , mas que com a abertura de novos campos santos foi perdendo um pouco de sua pkmpa. Ainda prevelece como tradicionals reduto de sepultamento dos membros das antigase tradicionais familias .
    Belas fotos e este artigo sobre os gatos e sua tratadora, que eu não conhecia...

    Grande abraço
    João batista

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  5. Gosto de fotos de cemitérios. Parabéns, tudo lindo.

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  6. obrigado, caroline e joão batista, pelos comentários.

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  7. Muito bonita postagem. Cemitérios são lugares de vida, embora deva-se ter delicadeza para percebê-la.
    Claudia

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  8. Uma vez um povo foi correr de madrugada no cemitério da Vila Marina (acho q é Vila Marina) e acabou quebrando um túmulo e caindo la dentro. Eles fugiram com um pedaço de crânio e levaram no bar, onde todo mundo comeu um pedaço pra ver qualé.

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  9. Este cemitério é maravilhoso.
    Um local que sempre visito, pois me sinto em paz e posso ficar mais próxima de alguns entes que ali jazem.
    Nunca encontrei com a dona Elza, mas já tive uma história interessante com outra senhora e alguns cães no túmulo da Irmã Benigna.
    Parabéns pelo post!

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    1. que bom que vc gostou do post, mariana! o bonfim tem uma das melhores vistas da cidade. neste dia, em particular, a luz estava ótima. abração e apareça sempre!

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